segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Apocalipse nos Trópicos, de Petra Costa | 48ª Mostra SP


MOSTRA BRASIL
Exibido no Festival de Veneza

Mais recente realização da diretora brasileira Petra Costa, orgulho do cinema brasileiro devido a enorme conquista de ter o seu filme ''Democracia em Vertigem'' indicado ao Oscar 2020 na categoria de Melhor Documentário, a produção Apocalipse nos Trópicos embarca os espectadores estrangeiros em outra análise da realidade brasileira que é deveras assustadora pelas situações esdrúxulas apresentadas, mas que, todavia, faz parte do cotidiano dos brasileiros, infelizmente. 

O documentário é um resumo didático dos últimos anos da nação verde-amarela. Retrata o fenômeno dos líderes evangélicos que, aos poucos, construíram lideranças políticas, conclamando seus fiéis a votarem em nomes de sua preferência. Essa tomada de posição mais agressiva mudou as esferas do poder municipal, estadual e federal. A mescla de estado e religião deu uma guinada conservadora às últimas decisões políticas; a Bíblia agora é o livro base para as novas leis votadas e decisões executivas e judiciárias tomadas. Todos os últimos acontecimentos político-sociais tem a influência dos evangélicos; é o sagrado misturando-se com o laico, abalando um dos princípios da democracia, que é ser leiga. Além dos três poderes garantidos pela constituição, tem-se o quarto poder que é a Igreja. O Brasil não é para amadores! E a bagunça que se instaurou a todos pertence.

Mostrando através de entrevistas, programas de televisão e imagens diversas a inserção da religiosidade na política como projeto de poder, a diretora expõe claramente como essa confusão de valores ameaçou em vários momentos uma democracia, em si fragilizada, pois recente. Todos os últimos momentos políticos, como as últimas eleições presidenciais, a invasão do Congresso, o impeachment, são apresentados em imagens chocantes de uma realidade quase mágica, de tão absurda que é. Afinal privilegiar uma massa de fiéis em detrimento de minorias não é exatamente um dos conceitos da democracia - nem mesmo dos ensinamentos cristãos. Ainda mais usando para isso trechos escolhidos de um livro milenar, como primordial, o capitulo que contem o ''apocalipse'', numa previsão da batalha final e da vinda do Messias.

                             Crédito de Imagens: Busca Vida Filmes | Peri Productions | 48ª Mostra SP | Divulgação

Ficha Técnica
Título Original e Ano: Apocalipse nos Trópicos, 2024. Direção e Roteiro: Petra Costa. Com a participação de Silas Malafaia, Bolsonaro, Cabo Daciolo, Alexandre de Moraes, Presidente Lula. Gênero: Documentário. Nacionalidade: Brasil. MúsicaRodrigo Leão. FotografiaJoão Atala, Pedro Urano, Murilo Salazar. MontagemVictor Miaciro, Jordana Berg, Tina Baz, David Barker, Nels Bangarter, Eduardo Gripa. SomOlivier Goinard. Desenho de SomOlivier Goinard, Felipe Mussel. ProdutorasPetra Costa, Alessandra Orofino. ProduçãoBusca Vida Filmes, Peri Productions. Duração: 110min.

Não espere grande ou inovador cinema! O que se tem aqui é um feijão com arroz muito bem temperado e consistente da nossa situação política! Essa simplicidade de propósitos e a didática excelente comunicam de maneira muito clara a todos que assistem o que aconteceu e ainda acontece nesta Terra do Sol, onde Deus e o Diabo coexistem e se metem na política. O Presidente Lula e o Pastor Silas Malafaia aparecem em vários momentos, em aparições públicas ou em momentos íntimos como nas refeições com a família. Estas duas bases nas quais se balança o frágil momento político atual norteiam a condução do roteiro, onde ainda brilham outros figurões como Cabo Daciolo, Alexandre de Moraes, Jair Messias Bolsonaro e outros. Esses líderes influenciam o povo, que não é esquecido na história. Os depoimentos das pessoas comuns são impagáveis, o suco da alma brasileira sendo apresentado às plateias do mundo todo. Muita citação do todo salvador, muita oração, muitas lágrimas derramadas e muitas promessas a serem pagas, algumas entrevistas são até cômicas, de tão absurdas e irracionais.

O livro Apocalipse, da Bíblia, não significa batalha final entre o Bem e o Mal, entre os fiéis e os leigos. O termo apocalipse é revelação. Essa revelação, a busca pela verdade, é importante para que se compreenda este fenômeno perturbador. Nada melhor que um documentário para se levar às massas o estudo desse fenômeno, que não vai acabar, é um projeto de poder declarado, conforme mostrado em vários depoimentos. Como os líderes religiosos declaram no filme, a política é uma das colinas a serem dominadas, uma das bases para a guerra. Cabe ao espectador assenhorear-se desta realidade e, também, se posicionar! 

Nota: 8/10.

Vinheta da Mostra


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REPESCAGEM - SEGUNDA 04/11 às 15h, no CINESESC


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Um comentário:

Wesley PC> disse...

Aplausos de pé para esta ótima conclusão: parágrafo final esplêndido!

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