sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

A Outra Forma, de Diego Guzmán

 
Animações possuem um custo de produção muito alto, mesmo em países do norte global, elas demandam grandes investimentos. Assim, é relativamente raro termos acesso a esse tipo de produto vindo da América Latina, ou sul global de uma forma geral. Co-produzido pela Colômbia e o Brasil, ''A Outra Forma'' é o filme de estreia do diretor colombiano Diego Guzmán. Com passagem pelo FantasPOA 2024 e o Annecy 2022, o filme conta a história de Pedro Prensa, que só deseja se encaixar.

Pedro Prensa (Sergio Barbosa) possui esse nome porque sua cabeça está sendo prensada por uma espécie de aparelho corretor. Numa sociedade quadrada, como a que ele vive, qualquer curva é interpretado como transgressão. Ele quer deixar a sua cabeça em uma certa espessura para caber na nave que o levará ao Paraíso.

O filme se inicia com Pedro admirando essa nave, que se trata de uma torre com várias pessoas encaixadas, nos mais variados formatos, mas sempre mantendo aqueles predeterminados. Ele trabalha consertando rachaduras, assim, se há algo errado, ou ainda se uma flor crescer entre os juncos da calçada, ele deve consertar.

A cidade, as pessoas, até mesmo a lua, tudo é quadrado. Há uma certa estranheza inicial por conta da animação desses corpos, a equipe consegue criar diferentes formatos e aparelhos corretores para preencher aquela sociedade, é visualmente interessante observar como cada mecanismo funciona e questionar até onde vamos, como sociedade, para nos encaixar.

Trailer

Ficha Técnica
Título Original e Ano: La Otra Forma, 2024. Direção e Roteiro: Diego Guzmán. Direção de animação: Diego Guzmán, Valu Vasconcelos. Elenco de Vozes: Sérgio Barbosa, Jessica Herrera e Fabian Blanco. Gênero: Animação. Nacionalidade: Brasil, Colômbia. Música original: Daniel Velasco. Produção: Carlos Smith Rovira. Coprodutores: Aline Mazzarella,  Matheus Peçanha. Produção Executiva: Felipe Fernandes, Sebastián Patiño. Editor: Diana Eraso, Luka Melero. Direção de Arte: Sergio Chaves. Desenho de som e mixagem: Marcelo Cyro, Arcadia Sonora, Javier Prada, Diego Bernal. Distribuição: . Duração: 92in.

Pedro, com certeza, vai longe demais. Todos os dias ele aperta mais o seu aparelho, com objetivo de chegar numa certa medida, para se encaixar na nave. Todos os dias ele sofre com a prensa apertando sua cabeça.

Outros personagens auxiliam se juntam a ele, Cuadrochica (Jessica Herrera) está pressionada pelos padrões de beleza existentes ali. Saem as curvas e entram as arestas. Cuadrochica precisa ser o mais quadrática possível, ombros, seios, bunda O padrão de beleza a assombra, mesmo sendo uma pessoa famosa, ela tem medo de perder esse status, de se tornar não desejada.

Já Cajuela (Fabián Blanco), não se submeteu aos aparelhos de correção, mas vive com sua cabeça coberta por uma caixa de papelão para passar despercebido. Ele deseja ser parte daquela sociedade, mas não deseja a dor de o fazer. É o personagem que mais possui vínculo com uma era anterior à dos aparelhos de correção, quando está sem a caixa na cabeça, é atormentado por uma espécie de entidade.

Essa entidade vai aparecendo para os outros personagens, a medida que eles vão ficando saturados daquela realidade, daquela busca por caber naquela sociedade. Porém, é também quando ela se manifesta de forma mais proeminente, que o filme muda abruptamente seu tom e há uma quebra no pacto selado até aquele momento.

                          Crédito de Imagens: Hierroanimación e Smith&Smith - Divulgação
No Brasil, o filme tem distribuição do Estúdio Giz 

A partir do crescimento da entidade, o filme parece mudar, ganha uma direção nova, abandona uma narrativa mais intimista por algo grandiloquente. Isso tira o espectador da imersão por um instante e, apesar de ser uma boa sequência, acaba perdendo força.

Cabe dizer que o filme não possui falas, ainda que hajam créditos de voz, essas interpretações estão ligadas a sons emitidos pelos personagens. Ainda assim, é um filme com bastante a dizer sobre a nossa sociedade, os padrões de beleza, o desejo de pertencimento, a busca por uma uniformidade estéril, que vem impactando, até mesmo, os filmes.

Com uma animação marcante, ainda que a taxa de quadros baixa em alguns momentos, que pode causar uma estranheza ainda maior, o filme se destaca também pela sua trilha sempre presente. É uma experiência interessante para todos aqueles mais acostumados a consumir somente animações vindas do norte global.

Avaliação: Três dicas de terapia para o coletivo (3/5).

EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS

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