“Minha vida não é tão boa assim, para eu querer prolongá-la com esta tortura”…
Título Original e Ano: Sterben, 2024. Direção e Roteiro: Matthias Glasner. Elenco: Corinna Harfouch, Lars Eidinger, Lilith Stangenberg, Ronald Zehrfeld, Robert Gwisdek, Anna Bederke. Gênero: Drama. Nacionalidade: Alemanha. Fotografia: Jakub Bejnarowicz. Trilha Sonora Original: Lorenz Dangel. Figurino: Sabine Keller. Edição: Heike Gnida. Produção: Jan Krüger, Ulf Israel, Matthias Glasner. Empresas Produtoras: Port Au Prince Film & Kultur Production, Schwarzweiss Filmproduktion, Senator Film Produktion. Distribuição: Imovision. Duração: 181min. Classificação: 16 anos
Se os enfermeiros da casa de repouso onde Gerd está internado estranham que este paciente seja ignorado por seus parentes, mesmo estando à beirada morte, logo saberemos que isso não é casual, num diálogo demorado e mui sufocante entre Lissy e Tom, em que ela confessa uma memória traumática, quando jogou o filho contra a parede, quando ele ainda era um bebê. É a deixa para que Tom reitere o quão insuportável é estar ao lado da mãe, para além das similares de personalidade que ambos compartilham. O diretor e roteirista não é nem um pouco complacente quanto às conseqüências devastadoras da frieza sentimental destes personagens…
Aderindo a um estilo mui realista de sadismo comportamental, Matthias Glasner expõe uma série de brigas, traições e chantagens emocionais, além de situações chocantes, ocorridas no consultório odontológico em que Ellen trabalha, incluindo uma extração dentária com alicate, na cozinha de um bar, depois que ela entabula um romance com seu chefe Sebastian (Ronald Zehrfeld), que é casado, porém apaixonadíssimo por ela. Não é um filme fácil de ser assistido, para quem é deveras sensível, mas revela-se bastante recompensador, num epílogo (“Vida”) que, em mais de um sentido, é consolador para os personagens que sobrevivem. Não obstante o sobejo de agressividade, é também um filme paradoxalmente otimista, principalmente no cotejo com a obra anterior do cineasta, supramencionada.
Servindo-se de fatos ocorridos na conjuntura natalina para justificar a entrega lacrimosa de Tom Lunies à execução da derradeira sinfonia de Bernard, ouvimos uma personagem dizer ao protagonista que sua amargura, entre outros motivos, tem a ver com a obsessão por um trabalho específico do realizador sueco Ingmar Bergman [1918-2007]. Temendo que sua música se converta nalgo “cafona”, Bernard adia a estréia do concerto inúmeras vezes, permitindo que nós percebamos as circunstâncias em que os dois irmãos recebem as notícias sobre a progressão das moléstias familiares, como a morte de Gerd e a descoberta de um câncer vaginal na diabética Lissy. Ainda que Liv (Anna Bederke), a namorada de Tom, se esforce para convencê-lo de que “salvar uma vida é importante” – havendo um aborto traumático entre eles –, a morte, neste filme, soa como provedora de alívio para as pessoas atormentadas que o protagonizam. Surge, assim, um dos melhores filmes de 2024!
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