Gladiador II, de Ridley Scott


A primeira reação que se tem ao descobrir que estava em produção uma sequência de Gladiador geralmente é: mas, por quê? Aliás, certeza que este questionamento pairou na mente da grande maioria das pessoas, especialmente dos apaixonados pelo filme de Ridley Scott que marcou os anos 2000. A repercussão no Oscar, a aclamação pública, o sucesso nas locadoras e as transmissões repetidas vezes na tevê aberta mostram o impacto cultural que o longa alcançou, a ponto de Russell Crowe ser frequentemente referido como "o cara do Gladiador". Ressalto esse peso porque acredito que ele seja o grande responsável não apenas pela expectativa, mas também pela construção de uma sequência muito presa ao material original.

A indústria cinematográfica tende a buscar fórmulas que agradam o espectador e repeti-las à exaustão. O apelo à nostalgia, os easter eggs e a tentativa de espelhar momentos marcantes para a audiência buscam ornamentar um produto que pode ser mais vazio do que aparenta. Diversas produções ao longo dos anos têm utilizado esses elementos. Sagas infanto juvenis, filmes de heróis baseados em quadrinhos e remakes de obras consagradas são alguns exemplos que, de forma excessiva, recorrem a esses artifícios para emular uma sensação de conforto em uma geração ansiosa, satisfeita com agrados à sua memória afetiva. É impossível desvincular Gladiador 2 desse cenário e de como isso influenciou as decisões de produção do longa.

Anos após os eventos do primeiro filme, Paul Mescal (Criaturas do Senhor e Aftersun) interpreta o promissor protagonista Lucius Verus, filho de Lucilla, que tem uma importante relação com Maximus em Gladiador, moldando sua perspectiva e personalidade ao longo do tempo. Se você não se lembra muito bem, não se preocupe, pois isso será recontado e reforçado várias vezes durante o longa. Quanto mais você se lembrar do filme anterior, mais os paralelos e ecos narrativos ficarão evidentes, e será clara a tentativa de repetir a jornada com tantas semelhanças. É como se houvesse um checklist com todos os elementos de sucesso do original, em uma tentativa desesperada de replicar momentos, ideias e cenas que visam alcançar o mesmo impacto. As rimas visuais, as grandiosas cenas de luta e a construção de um ambiente épico são bem-sucedidas em boa parte do tempo, mas deixam uma sensação agridoce ao revelar o quanto reaproveitam conceitos mesclados com novidades.

Trailer


Ficha Técnica
  • Título Original e Ano: Gladiator II, 2024. Direção: Ridley Scott. Roteiro: David Scarpa - com argumentos de David Scarpa e Peter Craig, baseado nos personagens criados por David Franzoni. Elenco: Denzel Washington, Paul Mescal, Pedro Pascal, Connie Nielsen, Joseph Quinn, Fred Hechinger, Matt Lucas, Peter Mensah, Derek Jacobi. Gênero: Ação, Épico, Drama. Nacionalidade:  EUA, Reino Unido, Malta, Marrocos, Canadá. Trilha Sonora Original: Harry Gregson-Williams. Fotografia: John Mathieson. Edição: Sam Restivo e Claire Simpson. Design de Produção: Arthur Max. Supervisão de Direção de Arte: David Ingram. Figurino: David Crossman e Janty Yates. Empresas Produtoras: Paramount Pictures, Scott Free Productions,  Morocco Film Production,  Québec Production Services Tax Credit. Distribuidora: Paramount Pictures Brasil. Duração: 02h28min.

Apesar disso, a trama realmente traz novos elementos que enriquecem o desenvolvimento e permitem mudanças de rumo. O grande trunfo nesse aspecto é Macrinus, um novo personagem interpretado brilhantemente por Denzel Washington, que tem papel crucial nos pontos positivos do filme. Vale destacar também a relação da retornante Lucilla (Connie Nielsen) com o general Acacius (Pedro Pascal), que é bem construída, e os peculiares imperadores Geta e Caracalla, que, embora próximos da caricatura, funcionam como uma crítica quase paródica a lideranças imprudentes e patéticas.


                          Crédito de Imagens: © 2024 PARAMOUNT PICTURES. ALL RIGHTS RESERVED.
A produção marca o segundo encontro de Ridley Scott e Denzel Washington. A dupla trabalhou junta em ''O Gângster'' (2007), filme que é estrelado pelo ator ao lado de Russel Crowe.

Depois de assistir Gladiador 2, o público pode, talvez ser tomado por sentimentos contraditórios... Entre o incômodo de uma sequência refém de si mesma e o entusiasmo pelos méritos de um épico com elementos bem executados e um carisma acima da média, que na balança pende para o lado da satisfação com ressalvas. Como em várias produções do, por vezes, polêmico Ridley Scott, o longa deve dividir opiniões entre os satisfeitos com a entrega confortável e os que se frustram com a covardia criativa. Mas, sem dúvida, podemos afirmar que o legado de Ridley Scott continuará a ecoar pela eternidade.

Escrito por Leonardo Oliveira

    Comentários Blogger
    Comentários Facebook

0 comments:

Postar um comentário

Pode falar. Nós retribuímos os comentários e respondemos qualquer dúvida. :)