quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Covil de Ladrões 2, Christian Gudegast

 
O primeiro filme dessa aparente nova franquia do cinema de ação de assalto (leia texto aqui), também chamada de ''Heist'', ao que se refere ao gênero, foi uma grata surpresa, mas o anúncio de uma continuação não era esperado pelo mundo cinéfilo. Em Covil de Ladrões 2, também dirigido por Christian Gudegast, Donnie, interpretado por O’Shea Jackson Jr., tem um novo plano, ele se junta a outros infames ladrões, formando o grupo criminoso Pantera, para realizar um roubo ainda mais fantástico na Europa, enquanto o policial Nick, interpretado por Gerard Butler, está no seu encalço.

Uma das características mais marcantes dessa, possível nova, franquia é a presença de um código moral dos ladrões, contra uma amoralidade institucionalizada dos policiais. No primeiro, o roubo visa as notas de dólar que são descartadas diariamente no Banco Central dos Estados Unidos da América, é possível dizer que eles roubam um dinheiro que deixaria de existir. Os policiais, por outra via, atuam de forma mais violenta que os próprios ladrões. O diretor quer criar essa ideia, esse sentimento de que os vilões são um pouco mocinhos e os mocinhos são um pouco vilões, em especial o personagem de Butler.


Nesta sequência, a ideia geral permanece, mas é trabalhada de outra forma. Nick está em busca de Donnie, recém divorciado, após perder seu emprego na polícia, ele caça o bandido para um acerto de contas, indo até a Europa colaborar com a polícia da União Europeia. Porém, ao se ver perdido e sem rumo, Nick decide se juntar aos ladrões para performar o assalto também. De início, Donnie se mostra reticente, ele sente Nick como uma ameaça, e o próprio grupo de Panteras também fica receoso. O filme brinca muito com a ideia de onde está a lealdade de Nick, é o grande ponto de interrogação, para os personagens e para o espectador, mas o diretor consegue manejar isso de forma a, como no primeiro filme, nos enganar o tempo todo.


Crédito de Imagens: Rico Torres para a Liongate - Diamond Films/Divulgação

Nos Estado Unidos, o Filme ganhou o subtítulo de ''Pantera'' e foi lançado em janeiro deste ano

É dificil julgar uma história como essa, por ser algo muito simples. Um grupo de ladrões vai roubar uma espécie de banco de diamantes, pronto. As qualidades e chamarizes do filme estão na forma com que o diretor conduz a ação, como a tensão é criada entre os personagens e nisso ele é muito competente. Quando o longa-metragem se investe na ação, na forma com que os ladrões vão tentar enganar a todos para cometerem um crime quase perfeito, ele é hipnotizante. O problema aqui, nesse sequência, são as histórias paralelas.


O primeiro filme possuía uma condução mais restrita, haviam vislumbres da ruína do casamento de Nick, do trabalho formal de Donnie e da vida pessoal de Merrimen (Pablo Schreiber). Nessa continuação, há uma proliferação de histórias auxiliares que acabam por atrapalhar o desenvolvimento da narrativa principal. A película acaba se estendendo para poder dar conta de todas as histórias que quer contar, mas nem todas funcionam e acabam deixando a história cadenciada.


O elenco vai muito bem, a criatividade estética e narrativa é muito bem vinda e o final deixa um gostinho de queremos mais. Sofre pela sua grandiloquência, mas consegue se recuperar quando a história caminha. É uma produção pipoca que vale a pena conferir no cinema.


Trailer



Ficha Técnica

Título Original e Ano: Den of Thieves: Pantera, 2025Direção: Christian Gudegast. Roteiro:Christian Gudegast baseado nos personagens criados por Chrstina Gudegast e Paul T. Scheuring. Elenco: Gerard Butler, O'Shea Jackson, Evin  Ahmad,  Salvatore Esposito, Orli Shuka,  Stéphane Coulon, Cristian Solimeno, Nazmiye Oral, Mark Grosy, Joshua Gabriel LiègeGênero: Suspense, ação, policial. Trilha Sonora OriginalKevin Matley. Fotografia: Terry StaceyFigurino: Cristina Sopeña. Edição: Robert Nordh. Direção de Arte: Lionel Mathis e Antonio Calvo Domínguez. Design de ProduçãoSébastien InizanDistribuidor: Diamond Films Brasil. Nacionalidade:Estados Unidos. Duração: 02h24min.
Avalição: Três gritos em alto mar e meio (3,5/5).

HOJE NOS CINEMAS

O Maravilhoso Mágico de Oz - Parte I


“Coloque seu celular de lado e observe as belezas ao redor.”

Chega aos cinemas mais uma releitura do clássico “O Mágico de Oz”, desta vez uma produção do cinema russo, dirigido por Igor Voloshin, com roteiro do trio Timofei Dekin, Roman Nepomnyashchiy e Aleksander Volkov. A produção financiada pelo governo russo, implementada com o apoio do Russian Cinema Fun e realizada por quatro grandes empresas cinematográficas russas, o que gerou grandes expectativas de público e imprensa.

A película foi baseada no romance infantil “O Mágico da Cidade das Esmeraldas: A Estrada dos Tijolos Amarelos”, escrito, em 1939, pelo soviético Alexander Volkov, que por sua vez se baseou no romance de 1900, de L. Frank Baun.

A atriz infantil Ekterina Chervova, em seu primeiro papel no cinema, dá conta perfeitamente do protagonismo. Ellie é uma pré adolescente caprichosa e mimizenta que não acata as regras definidas pelos pais quanto ao uso do celular. A família está tentando resgatar a dinâmica familiar com atos antigos como ter um pet de estimação, a leitura de um livro e uma viagem ao campo. Repentinamente, se vêem no olho de um enorme furacão. O que eles não imaginam é que aquele estranho tornado foi conjurado por Gingema (Vasilina Makovtsema), a feiticeira má do leste. Levada pelos fortes ventos, Ellie chega a uma terra distante e desconhecida, sem sinal de celular, longe dos pais e tendo que tomar suas próprias iniciativas e resolver situações sem o auxílio de um adulto. Sem saber de nada, ela calça os sapatinhos mágicos, objeto de desejo das bruxas.

        Crédito de Imagens:  Central Partnership Productions, Gazprom Media, Kinoslovo, Studio Trite - Imagem Filmes / Divulgação
A produção foi lançada nos cinemas russos no 1.º de janeiro de 2025

A película aborda muito bem a relação familiar atual e a dependência digital. O clássico foi adaptado aos dias de hoje, o que facilita a compreensão do público mais jovem. Até mesmo a relação carinhosa entre Ellie e o cãozinho Totó que ganha o dom da fala no mundo mágico cativa o público infantil, abordando a relação pet friendly dos dias atuais.

No mais, temos a mesma trama já conhecida, onde Ellie (inspirada em Dorothy) segue o caminho dos tijolos amarelos e ganha novos amigos no percurso. O espantalho (Yevgeni Chumak), o Homem de Lata (Yuri Kolokolnikov) e o Leão covarde (Arthur Vakha) se juntam à garota e partem rumo à Cidade das Esmeraldas, na esperança de encontrar o maravilhoso Mágico de Oz que irá realizar seus desejos mais íntimos. No papel de Bastinda, a bruxa boa (bruxa boa do sul) temos Svetlana Khodchenkova. Villina, a bruxa do norte é encarnada por Aleksandra Bogdanova.

O filme teve boa recepção de público e recebeu críticas mistas da imprensa russa. Sua continuação, ou melhor, a segunda parte da aventura, chega aos cinemas russos em 1.º de janeiro de 2027.

Trailer



Ficha Técnica
Título Original e Ano: Volshebnik Izumrudnogo goroda. Doroga iz zhyoltogo kirpicha, 2025. Direção: Igor Voloshin. Roteiro: Timofei Dekin e Roman Nepomnyashchiy - baseado na obra original de Aleksandr Volkov que é inspirada nos livros de L. Frank Baun. Elenco: Sofya LebedevaSvetlana KhodchenkovaYuri KolokolnikovEgor KoreshkovDenis VlasenkoDmitriy Chebotaryov, Artur VakhaSergey EpishevYana SeksteVasilina MakovtsevaArtem ZhukovEkaterina ChervovaAleksandra BogdanovaNadezhda KuvshinovaVladislav KudryaevMariya ZhidkovaSofiya VaysbergAleksandr AstakhovMariya DudnikEvgeniy ChumakRoman ShpaginUdzher the DogAleksandr KalashnikovAndrey SidorovYuliya KhramtsovaOlga Koptsova. Genêro: Fantasia. Nacionalidade: Russia. Fotografia: Mikhail Milashin. Design de ProduçãoSergey Agin. Design de Som: Aleksandr Demyanov. Figurino: Ulyana Polyanskaya. Empresas Produtoras: Central Partnership Productions, Gazprom Media, Kinoslovo, Studio Trite. Distribuição: Imagem Filmes. Duração: 02hrs.

Avaliação: Dois sapatinho mágicos e meia papoula. (2,5/5)

O Homem do Saco, de Colman McCarthy


No novo terror dirigido pelo diretor escocês Colman MacCarthy (Melanie - A Última Esperança, 2016) e protagonizado por Antonia Thomas (The Good Doctor, 2017, Lovesick, 2014, e Misfits, 2009) e Sam Claffin (O Livro do Amor, 2022), o medo de uma geração de crianças de todo o mundo é personificado: O Homem do Saco.

A história desta ''lenda infantil'' está enraizada em boa parte do imaginário brasileiro. Um homem mal que rapta crianças desobedientes e se alimenta delas. O filme segue essa cartilha, porém, o vilão não busca pelas crianças arteiras, mas sim as mais comportadas, mais sonhadoras. O que talvez seja um bom motivo para se tornar um rebelde sem causa. 

O personagem de Claffin, Patrick, foi atormentado por esta vil criatura na infância, mas recebeu de seu pai um artefato para afastá-lo. Agora casado com Karina (Antonia Thomas) e pai de Jake, interpretado pelo fofíssimo Caréll Vincent Rhoden, o monstro de sua infância volta para assombrar sua casa e sua família. 
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Ficha Técnica
Título Original e Ano: Bagman, 2024. Direção: Colman McCarthy. Roteiro: John Hulme. Elenco: Sam Cafflin, Antonia Thomas,  Caréll Vincent Rhoden, Will Davis, Adele Leonce, William Hope, Steven Cree, Rosalie Craig, Peter McDonald, Henry Pettigrew. Gênero: Terror. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Tim Williams. Fotografia: Nick Remy Matthews. Edição: Jeff Betancourt. Design de Produção: Chris Richmond. Figurino: Irina Kotcheva. Distribuidora: Paris Filmes. Duração: 01h33min.

O longa tem uma boa estrutura narrativa, entres flashbacks e cenas no presente, acaba conseguindo construir bem seu terror, até certo momento. Mas é a combinação desse com o drama que chama mais atenção. A situação da família, o trauma do passado, a ligação com o filho Jake, tudo isso é bem feito, mas o diretor parece ter a necessidade de adicionar os motes genéricos que assombram esse tipo de filme, as tentativas de jump scare, desleixo na construção de tensão e do monstro.

Quando a sugestão é feita, o filme fica mais interessante, mas a personificação sem vida do Homem do Saco é frustrante, até mesmo a sua bolsa, com o feixo macabro, fica aquém. Há uma pressa em chegar num determinado ponto da história, que acaba fazendo com que o filme não nos deixe ver tudo o que queremos, em especial nos ataques do vilão.

   Créditos de Imagem: Temple Hill Enterteinment,  Media Capital Technologies - Vladislav Lepoev/Divulgação/Paris Filmes
A primeira aparição de sucesso de Antonia Thomas foi na série ''Misfits'', criada por Howard Overman, em 2009. De 2022 a 2024, a atriz foi vista ao lado de Freddie Highmore na aclamada série ''The Good Doctor''.


A personagem de Antonia é subaproveitada e o restante dos coadjuvantes ainda mais, chega até a ser confuso, em alguns momentos, qual a relação deles com os protagonistas. São personagens que saem e entram em cena, mas não possuem peso. A migração dos protagonistas pelas casas desses últimos também é vazia, e não faz diferença para as jornadas e arcos.

Por fim, Colman, um experiente condutor de séries de tevê no Reino Unido, apresenta um filme de terror com bons momentos, um começo bom, trabalhando a ideia de traumas geracionais, mas acaba caindo nas armadilhas existentes do gênero. Há uma preocupação estética, interessante em certa medida, para a bolsa, o covil, a figura do Homem do Saco, mas a revelação do visual do personagem é aquém do que se espera. Ainda assim, uma boa sessão para quem não perde estreias aterrorizantes.

Avaliação: Dois sacos furados e meio (2,5/5)

HOJE NOS CINEMAS

Kasa Branca, de Luciano Vidigal


“E a carne mais barata é de quem?/ Disseram que era tudo igual/ Claro que não ‘tá nada bem/ Porque nós que é de bem se dá mal”…

Os versos acima pertencem à canção “Função”, do ‘rapper’ carioca L7nnon, que é executada mais de uma vez durante este filme e que justifica o título do mesmo, no sentido de que é graças à promessa de aparição num ‘show’ beneficente que a residência do protagonista torna-se a Kasa Branca, onde ocorre uma super-festa e pequenos dramas se desenrolam…

Nascido e criado no morro do Vidigal, de onde retirou o seu sobrenome artístico, o diretor desta obra possui suficiente conhecimento de causa para evitar que a trama redunde nos clichês sobre violência em comunidades menos favorecidas, conforme acontece em produções oportunistas, realizadas por cineastas de cariz publicitário. Ao invés disso, ele apresenta-nos situações legítimas de interação entre os moradores, não obstante a violência surgir, seja por parte dos policiais, seja através de vigilantes criminosos. Mas este, definitivamente, não é o foco do enredo.

Elaborado de maneira impressionantemente terna, o roteiro deste filme é centrado na amizade entre três rapazes, e nas paixões que os movem: André, conhecido por todos como Dé (Big Jaum), é um adolescente que vive com a sua avó Almerinda (Teca Pereira), em estado avançado de Alzheimer. Sem trabalho, ele enfrenta dificuldades para pagar o aluguel e comprar os remédios que ela necessita. Constantemente acompanhado por Adrianim (Diego Francisco) e Martins (Ramon Francisco), Dé encontra neles o apoio que carece para seguir em frente, visto que sua mãe faleceu e seu pai (Babu Santana) não fala consigo há vários anos…

       Crédito de Imagens:  Vitrine Filmes - Divulgação
Vencedor de quatro prêmios no Festival do Rio, em 2024, (''Melhor Direçao'', para Luciano Vidigal, ''Melhor Fotografia'', para Arhur Sherman, ''Melhor Trilha Sonora'', para Guga Bruno e Fernando Aranha, e ''Melhor Ator Coadjuvante'' para Diego Francisco).

Ocorre que os amigos de Dé também possuem os seus dilemas íntimos: Adrianim, por exemplo, que é filho da atlética Neide (Roberta Rodrigues), dona de uma academia de ginástica, tenta reaproximar-se da MC Talita (Gi Fernandes), por quem é completamente apaixonado, mas de quem perdeu a confiança, em razão de uma traição impensada; Martins, por sua vez, é obcecado pela esposa de um farmacêutico local, interpretada por Ingrid Ranieri, de quem se aproxima através de Luan, um amigo com sexualidade fluída (Kibba). E, em meio a tudo isso, o próprio André desenvolve uma paixão platônica por Neide, mãe de um de seus melhores amigos, masturbando-se enquanto visualiza as suas fotos de Instagram.

Muitíssimo bem musicado (o trabalho original de Fernando Aranha e Guga Bruno é excelente), este filme chama a atenção pela leveza com que aborda situações dramáticas e pela naturalidade com que apresenta os ônus procedimentais daquela região, como a propina exigida por policiais que flagram Adrianim conduzindo uma motocicleta sem Carteira de Habilitação ou a necessidade que os três amigos sentem de roubar uma farmácia. A tônica dominante é a do companheirismo, enfatizado até mesmo quando algum conflito ou desentendimento parece se instaurar. O humanismo do longametragem é impressionante, o que é valorizada pelas maravilhosas atuações de todo o elenco!

Fotografado de maneira hábil por Arthur Sherman, que, em mais de uma situação, recorre a elaborados ‘plongées’, “Kasa Branca” (2024) expõe o cotidiano de pessoas desfavorecidas sem torná-las vítimas indefesas ou paralisadas pelas circunstâncias. Graças à vontade de estarem juntos, até mesmo nos instantes mais inoportunos (quando Dona Almerinda tem uma crise de diarréia nos braços de Martins, por exemplo), os amigos demonstram que, havendo solidariedade e força de vontade, os determinismos sociais podem ser superados, de modo que a película também evita incorrer num discurso antirracista de tom panfletário. Muito pelo contrário, aborda este problema de maneira orgânica, quando Dé prefere que um vizinho guineense (William Bechester) conduza o funeral de sua avó, no lugar de um padre branco (vivido por Guti Fraga). Em vez do “amém” colonial, os amigos de André preferem o “axé”!

Os noventa e seis minutos de duração, portanto, são marcados por seqüências ora divertidas, ora emocionantes, além de inúmeros momentos atravessados pela musicalidade inspirada por L7nnon, que comparece vivificando a si mesmo. A montagem é bastante dinâmica e a direção é realmente exemplar, naquilo que ela deseja transmitir, culminando num desfecho de enfrentamento em aberto, impregnado da beleza que se manifesta ao longo de toda a projeção. Mais uma ótima surpresa no panorama hodierno do cinema brasileiro!

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Ficha Técnica
Título Original e Ano: Kasa Branca, 2025. Direção e Roteiro: Luciano Vidigal. Elenco: Big Jaum, Teca Pereira, Diego Francisco, Ramon Francisco, Gi Fernandes, Babu Santana, Roberta Rodrigues, Otavio Muller, Guti Fraga, Dj Zullu e L7nnon. Gênero: Drama. Nacionalidade: Brasil. Direção de fotografia: Arthur Sherman. Montagem: André Sampaio. Direção de arte: Alexandre Magalhães, Rafael Cabeça. Som: Vampiro, Fernando Aranha. Trilha sonora: Fernando Aranha, Guga Bruno. Produção: Bárbara Defanti, Gisela Camara, Roberto Berliner, Sabrina Garcia, Leo Ribeiro, Cavi Borges. Produtor Associado: Carlos Diegues. Produtora: Sobretudo Produção, TvZero, Tacacá Filmes, Cavideo e Dualto. Coprodutoras: Riofilme, Canal Brasil, Telecine e Globo Filmes. Distribuidora Internacional: The Open Reel. Distribuidora: Vitrine Filmes. Duração: 95 min.

A produção faz parte da iniciativa de longa data ''Sessão Vitrine Petrobrás'' e está em cartaz por todo o país com preço acessíveis.  

Paddington - Uma Aventura da Na Floresta


O Ursinho Paddington é um personagem fictício de literatura infantil criado pelo autor britânico Michael Bond. O escritor baseou sua obra em um ursinho de pelúcia solitário que viu em uma prateleira de uma loja em Londres. A aparência desolada e triste e a plaquinha no pescoço com os dizeres “Cuide deste urso, por favor” foi inspirada nas crianças refugiadas durante a  2ª Guerra Mundial, que eram evacuadas em trens cheios, com identificação no pescoço e pequenas malas.

O primeiro, da série de vinte e nove livros, e que conta com ilustrações de Peggy Fortnum, David McKee, RW Alley, entre outros artistas, foi publicado originalmente em 1958, intitulado “Um Urso Chamado Paddignton”. Com a morte do autor em 2018, a última aventura de Paddington (disponível aqui) também chegou as prateleiras. Os textos foram traduzidos para trinta idiomas, em setenta títulos que geraram mais de trinta milhões de cópias vendidas em todo o mundo.

O simpático ursinho tornou-se o personagem mais amado pelos britânicos e pode ser encontrado em praticamente todos os pontos turísticos da capital do Reino Unido e até a Rainha Elizabeth II rendeu-se aos seus encantos e delicioso sanduíche de geléia - Paddington fez parte das comemorações do Jubileu da Rainha, em 2022. No Brasil, a série literária foi licenciada pela Harper Collins , em 2017.

Adaptado para tevê, em formato de desenho, comerciais e filmes, o ursinho é sucesso e até mesmo nas redes como o ''X'' (antigo Twitter) sempre aparece em memes diversos. As aventuras cinematográficas tiveram inicio com ''Paddington'' (Paul King, 2014) e ganharam sequência em  ''Paddington 2'' (Paul King, 2017), ambos foram indicados ao Prêmio BAFTA de ''Melhor Filme Britânico''.

A terceira produção da série: “Paddington: Uma Aventura na Floresta”, recebeu Premiere, em Londres, e lançamento por todo o Reino Unido, em novembro de 2024. O filme familiar chegou aos cinemas brasileiros na última semana e deve rodar pelo mundo estreando em mais de dez países. Rota que se finaliza no Japão, em maio.

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Ficha Técnica

Título Original e Ano: Paddington in Peru, 2024. Direção: Dougal Wilson. Roteiro:  Mark Burton, JonFoster, John Lemon e com argumentos de Paul King, Simon Farnaby e Mark Burton - baseado nos personagens criados por Michael Bond. ElencoHugh Bonneville, Emily Mortimer, Julie Walters, Jim Broadbent, Imelda Staunton, Carla Tous, Madeleine Harris, Samuel Joslin, Olivia Colman, Antonio Banderas, Ben Whishaw. Gênero: Comédia, Família, Aventura, Live-Action. Nacionalidade: Reino Unido, França, Japão, Eua.Trilha Sonora Original: Dario Marianelli. Fotografia: Erik Wilson. Edição: Úna Ní Dhonghaíle. Design de Produção: Andy Kelly. Direção de arte: Richard Selway. Figurino: Charlotte Walter. Empresas Produtoras: StudioCanal, Columbia Pictures, Stage 6 Films,  Marmalade Films Ltd.. Distribuição: Sony Pictures Brasil. Duração: 01h46min.

 
O enredo de vida do ursinho peruano conta que ele foi encontrado na estação de Paddington, em Londres, lugar que origina seu nome, afinal, como este é conhecido na língua dos ursos é impronunciável por humanos. Enviado para longe, por sua tia Lucy e o tio Pastuzo, que mora em um lar para ''ursos aposentados'', em Lima, o simpático e atrapalhado animalzinho acaba sendo adotado pela família Brown. No início desta nova aventura, o público é situado sobre como o adorável ursinho foi separado dos pais e criado por tia Lucy. Um salto no tempo, leva o espectador aos dias atuais. Paddington já totalmente adaptado à rotina londrina recebe seu passaporte britânico. Enfim, o doce bichinho poderá viajar a sua terra natal e rever a parenta que clama por sua presença. Tia Lucy agora velhinha também mora no lar para ursos aposentados, que é administrado por freiras serelepes. O local é chefiado pela “doce” Reverenda Madre. A família Brown está passando por uma crise. Mary já não tem a companhia dos filhos Judy e Jonathan que cresceram e são jovens típicos que não precisam tanto dos pais - a mãe sente a 'síndrome do ninho vazio' se aproximar. Já o Sr. Brown está encarando desafios no trabalho no mercado de seguros. Ele precisa sair da zona de conforto, diz sua chefe. A solução que a família encontra é acompanhar Paddington em sua viagem na distante e desconhecida floresta peruana. 

Ao serem recebidos pela Madre Superiora, um fato misterioso acontece levando o grupo a uma jornada inesperada para resgatar a tia Lucy, que sumiu sem deixar nenhum aviso... Eles se embrenham na floresta a bordo do barco do Capitão Cabot e sua filha, desafiando os perigos do rio Amazonas.

   Crédito de Imagens:  StudioCanal, Columbia Pictures, Stage 6 Films,  Marmalade Films Ltd/Divulgação/Sony Pictures Brasil
O autor Michael Bond aparece no filme em formato de ''Selo''. O diretor Dougal Wilson e o roteirista Simon Farnaby também têm cameo na produção que foi rodada na Colômbia por conta da redução de taxas oferecida pela indústria do país, enquando 20% das cenas realmente tem palco no Peru.

Na versão original temos: Ben Wishaw (voz de Paddington), Imelda Stanton (voz de Tia Lucy), Hugh Bonneville (Henry Brown), Emily Mortimer (que vive Mary Brown, pois a atriz Sally Hawkins, interprete dos primeiros filmes,] não retornou para o terceiro), Madeleine Harris (Judy Brown), Julie Walters (Sra. Bird), Jim Broadbent (Sr. Gruber), Carla Tous (Gina Cabot) e Samuel Joslin (Jonathan Brown). Olivia Colman está perfeita no papel da Reverenda Madre. Um misto de doçura, mistério e ganância maquiavélica. Antonio Banderas como Hunter Cabot entrega um dos melhores personagens da película (depois de Paddington, óbvio!) Seu toque “peruano” traz graça e leveza à trama. Antonio e Olivia surpreendem com atuações divertidas e carismáticas. Hugh Grant faz uma breve aparição como o vilão Phoenix Buchanan do filme anterior. Prepare- se para muitas risadas e sustos com esta película dirigida pelo estreante Dougal Wilson. Paul King, diretor de Paddington 2, aqui figura na lista dos produtores e é um dos roteiristas.

Paddington: Uma Aventura na Floresta foge do padrão anterior da saga original londrina, o que pode desagradar a um público mais exigente. Mas, nem por isso deixa de ser uma aventura aconchegante, com momentos de puro entretenimento para crianças e adultos. 

Os cinemas brasileiros recebem, em sua maioria, a versão dublada, que se mostra muito agradável. Por sua vez, o filme confirma que sua meta é fazer o público se divertir neste finalzinho de férias.

Avaliação: Três sanduíches de geléia. (3/5) 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Ameaça no Ar, de Mel Gibson


Nove anos depois de “Até o Último Homem” (2016), Mel Gibson mira sua câmera para os céus no thriller “Ameaça no Ar”, com Mark Wahlberg (Uma Prova de Coragem, 2024). Michelle Dockery (Downton abbey II, Uma Nova Era, 2022) e Topher Grace (Uma Noite Mais Que Louca, 2011).

No filme, Winston, personagem de Grace, é capturado pela Agente Harris, interpretada por Dockery. Ele foi o contador de um importante chefe do crime e se dispõe a fazer uma espécie de delação premiada. Para isso, eles entram em um avião, pilotado por Daryl Booth, personagem de Mark. A questão é que Daryl é um criminoso que foi contratado para matar Winston antes que eles cheguem ao destino final.

A simplicidade da premissa também se reflete na simplicidade com que o diretor pensa os planos e, mais ainda, como a história é contada. O filme parece indeciso em qual linha deseja seguir. Se é um thriller de suspense, um longa de ação, uma comédia, ou, ainda, um drama. É evidente que o gênero de uma produção não a impede de navegar por outros espaços, mas aqui o filme soa indeciso e não apenas experimentativo.

O material de divulgação foca no nome de Wahlberg, porém o ator é mal aproveitado em tela, com um vilão pisicopata caricato, que não consegue se apresentar como uma ameaça real durante boa parte do enredo. É como se o personagem fizesse malabarismos na frente do espectador, escondendo não o baixo orçamento de dez milhões de dólares, mas ideias que ficaram pela metade e que o diretor não consegue transformar em imagens cativantes.

                                        Crédito de Imagens: Cortesia da Lionsgate / Divulgação - Paris Filmes
A produção levou apenas 22 dias para ser rodada 

A Agente Harris e Winston conseguem boa trocas no decorrer da jornada, os personagens são também caricatos, a agente durona que está voltando para a ação depois de um tempo na geladeira e o criminoso engraçado que agora deseja fazer o certo; mas os atores conseguem, em alguns momentos, produzir interesse.

Como o filme se propõe a ser também uma espécie de comédia, é interessante pontuar que nem todos as piadas funcionam, mas quando funcionam são boas, em geral vindo do personagem do astro da série ''That 70's Show'', Grace. O que é mais difícil de levar a sério no filme é o seu drama, mal construído e clichê, pois a necessidade de dar um pano de fundo para a personagem de Dockery é feita de qualquer maneira.
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Ficha Técnica
Título Original e Ano: Flight Risk, 2025. Direção: Mel Gibson. Roteiro: Jared Rosenberg. Elenco: Michelle Dockery, Mark Wahlberg, Leah Remini,  Topher Grace, Monib Abhat, Paul Ben-Victor, Maaz Ali, Eilise Patton, Senor Pablo, Savanah Joeckel. Gênero: Ação, Drama, Crime, Thriller. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Antonio Pinto. Fotografia: Johnny Derango. Edição: Nikolai Nikolov e Ian J. Anderson. Design de Produção: David Meyer. Figurino: Kristen Kopp. Empresas Produtoras: Hammerstone Studios, Davis Entertainment, Icon Productions, Media Capital Technologies.Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01h31min.

Porém, a parte do thriller é bem decente, na ideia de colocar três personagens no avião e somente aquele espaço importar, apenas o que eles têm acesso, ou ainda o que eles conseguem ver da janela existe. A comunicação de Harris com outras pessoas sempre nos deixa em dúvida sobre a veracidade do que está acontecendo em terra, se os personagens estão agindo da forma com que falam, ou se estão armando alguma armadilha. O filme consegue construir essa tensão muito bem em dois momentos distintos e o ambiente reduzido, aliado a planos fechados e close-ups ajudam a elevar a sensação de apreensão.

Resta, então, uma experiência frustrante, uma película que não consegue se decidir em que rumo seguir e vai se transformando numa salada de gêneros que, ao adicionar tantos elementos, acaba não tendo muito sabor. É contraproducente pensar no que o filme poderia ter sido, mas fica a impressão de que faltou polimento, as peças estavam lá, Gibson só não soube mexê-las.

Avaliação: Dois voos atrasados e meio (2,5/5)

HOJE NOS CINEMAS