Babygirl, de Halina Reijn



Novo filme da diretora Halina Reijn (Morte Morte Morte2022), Babygirl conta com uma Nicole Kidman entregue de corpo e alma num papel complexo, se expondo quase que por inteira, seja fisicamente ou mentalmente. A história sobre poder, submissão e a vontade de colocar tudo em risco para sentir alguma emoção, aqui, ambição e moralidade são coisas bem distintas.

Kidman é uma grande atriz, inegavelmente, mas aqui ela dá alguns passos a mais nesse seu status. É na entrega nas cenas, não só as de nudez, mas as que exalam desejo, atração, tesão, mas também as que a sua personagem se mostra mais fragilizada, indefesa. As escolhas da CEO Romy, de se relacionar com o estagiário Samuel, interpretado por Harris Dickinson, em detrimento de seu casamento com Jacob, interpretado pelo ator Antonio Banderas, a leva para um cabo de guerra entre desejo e submissão.

No fundo, Romy deseja ser submissa, deseja que Samuel mande nela, que diga o que lhe dá prazer, que faça com ela o que bem entender. Enquanto ela vive uma vida aparentemente perfeita, com um marido que a deseja, comandando uma grande empresa de logística, ela também deseja arriscar tudo para se sentir viva. Sentir que há mais para viver do que o que ela já tem, mas sem arriscar de verdade. Até que Samuel passa a ficar mais ousado.

                                              Crédito de Imagens: 2AM, A24 e MAN UP FILM / Divulgação - Diamond Films Brasil
Nicole Kidman trabalhou com Gus Van Sant em ''Um Sonho sem Limites'' e no filme sua personagem também chega a se envolver com um homem mais jovem interpretado ali por Joaquin Phoenix.

O personagem de Dickinson vai rompendo as barreiras impostas por Romy, se aproxima da família, do marido, a chantageia, mas só para mostrar quem tem o poder naquela relação. O thriller erótico que vai sendo construído lembra o filme L’éte Dernier (2023) da Catherine Breillat. Mulheres que arriscam suas vidas pelo desejo.

O texto de Halina é cortante e objetivo, mesmo o pano de fundo da utilização de Inteligência Artificial pela empresa que Romy é CEO, é bem trabalhado. As relações dos personagens de Dickinson, Kidman e Banderas é interessante, uma espécie de triângulo vai se formando, mas chamar de amoroso seria exagero. O filme consegue ser sexy e provocativo, na medida que mescla momentos de humor, principalmente entre Samuel e Romy.

Trailer


Ficha Técnica
Título Original e Ano: Babygirl, 2023. Direção e Roteiro: Halina Reijn. Elenco: Nicole Kidman, Harris Dickinson, Antonio Banderas, Sophie Wilde, Ester McGregor, Leslie Silva, Vaughan Reilly,  Victor Slezak. Gênero: Suspense,Crime, Drama,Mistério, Tensão Sexual. Nacionalidade: Paises Baixos, EUA. Trilha Sonora Original: Meghan Currier. Som: Wyatt Tuzo. Fotografia: Jasper Wolf. Edição: Matt hannam. Design de Produção: Stephen Carter. Figurino: Kurt Swanson, Bart Mueller.   Empresas Produtoras: 2AM, A24 e Man Up Film. Distribuição: Diamond Films Brasil. Duração: 114min. CLASSIFICAÇÃO 18.
Interessante também a atuação de Dickinson, que parece se esforçar para ser menos bonito do que o é, deixando ainda mais perguntas sobre o que leva a CEO a se envolver com ele. Banderas tem um papel mais coadjuvante, mas é sempre bom ver o veterano em ação. Mas Kidman parece ter nascido para o papel, até mesmo um meta comentário sobre o uso de botóx e procedimentos estéticos, que já foram usados para desmerecer a atriz.

Cabe destacar uma cena ao final, em que Romy está sofrendo uma chantagem de um terceiro que descobre seu envolvimento com Samuel, no que ela rebate com “Se eu quiser que alguém me humilhe, certamente vou pagar por isso”. É quando o filme completa seu ponto, depois de falar de relações de poder e discutir onde este poder reside, ele decide expor.

Funcionando como uma sátira social, mais suave do que o filme anterior da diretora, Babygirl cresce mais quando escolhe mostrar as situações do que quando decide explicá-las, o que faz de forma muito didática em determinados momentos. Tendo elementos bem característicos de filmes da produtora A24 (iluminação, fotografia, design), o filme consegue ir além do mero encaixe na fórmula. É sensual, divertido e bem atuado.

Avaliação: Três olhares sensuais  e meio (3,5/5).

09 de Janeiro nos Cinemas

Escrito por João Pedro Fraga

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