Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa, de Fernando Fraiha

 
Terceiro longa-metragem em live action da Turma da Mônica a ser lançado nos cinemas, Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa encanta com sua linguagem tão próxima aos quadrinhos do personagem. O humor baseado na preguiça, gula e inocência do protagonista, assim como na simplicidade de seus vizinhos, nos erros de comunicação e desentendimentos fazem da experiência audiovisual um retorno saudoso à infância de quem lia os gibis. Mesmo o trecho em animação, que vendo com olhos mais críticos, carece de coesão e apuro técnico, lembra aquelas histórias mais experimentais de Maurício de Sousa.

Ainda que conte com um elenco de peso (Luis Lobianco, Augusto Madeira, Taís Araújo, Débora Falabella e Raul Chequer fazendo uma pontinha), o filme é dos atores mirins estreantes, que além da similaridade física com seus papéis - a caracterização é um dos pontos fortes de todo o “Turma da Mônica Cinematic Universe” - esbanjam carisma.

Como é comum no universo dos seus gibis, Chico Bento (Isaac Amendoim) apresenta um conto moral em prol da natureza, do ecossistema e da vida mais simples. Dotô Agripino, sempre acompanhado de seu filho Genesinho (Enzo Henrique), pretende construir uma estrada na Vila Abobrinha e, para isso, pretende derrubar a goiabeira do Nhô Lau. Os dois vilões, aqui, representam um lado da vida interiorana: o agro, o sertanejo universitário, os mauricinhos de chapéu de caubói e fivela. Chico e sua turma, por sua vez, são símbolo do outro lado da vida na roça: sabedoria popular, vida em comunidade, folclore, economia sustentável. Além das crianças, essa última faceta é muito presente na figura de Vó Dita, a senhorinha que conta causos e leva a sério as crianças mais que os adultos.

Trailer


Ficha Técnica

  • Título Original e Ano: Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa, 2023. Direção: Fernando Fraiha. Roteiro: Elena Altheman, Fernando Fraiha e Raul Chequer. Elenco: Isaac Amendoim, Pedro Dantas, Anna Julia Dias, Lorena de Oliveira, Davi Okabe, Guilherme Tavares, Enzo Henrique, Augusto Madeira, Luis Lobianco, Livia La Gatto, Débora Falabella, Guga Coelho, Taís Araújo. Gênero: Aventura, adaptação, família, comédia. Música: Fabio Goes . Direção de  Fotografia: Gustavo Hadba. Direção de Arte: Marinês Mencio. Figurino: Leticia Barbieri. Montagem: Daniel Weber. Distribuição: Paris Filmes. Produção: Biônica Filmes. Coprodução: Paris Entretenimento, Mauricio de Sousa Produções e Paramount Pictures. Produção: Bianca Villar, Daniel Rezende, Fernando Fraiha, Karen Castanho, Marcio Fraccaroli e Marcos Saraiva. Duração: 01h30min.
É claro que a princípio, a única questão de Chico com o plano de Genesinho e seu pai é a destruição da goiabeira. Mas com a inteligência aguçada de Rosinha (Anna Júlia Dias) e Tabata (Lorena Oliveira), logo as crianças descobrem que tem caroço nesse angu e que a goiabeira não será a única prejudicada com a construção da “Agripino road”. Então, entram em cena as ideias mirabolantes para tentar impedir os vilões. E que ideias! O Cebolinha teria inveja de tantos planos infalíveis

O problema é que, com exceção de Vó Dita e a Professora Marocas, os adultos da vila não escutam os apelos das crianças. Estão todos muito felizes com o progresso que Dotô Agripino supostamente levará ao local e nem prestam atenção no que dizem Chico, Rosinha, Tabata, Hiro (Davi Okabe), Zé Lelé (Pedro Dantas) e Zé da Roça (Guilherme Tavares). Quando muito, até ouvem o que eles dizem, mas acreditam se tratar de besteira da molecada.

           Crédito de Imagens: Biônica Filmes e Paris Entretenimento / Divulgação
Isaac Amendoin, o interprete de Chico Bento, grava vídeos em sua terra natal, Cana Verde (MG) desde os 6 anos de idade e sempre alegrou seus milhões de fãs nas redes sociais pela simplicidade e amor a natureza e animais.

Após muitos planos frustrados da turminha, Chico percebe que assim como os adultos, eles não estão se escutando. Cada um atropela o outro na esperança de ser dono da solução perfeita e tudo vai por água abaixo. A salvação está no trabalho em equipe. Pode soar piegas e a história tem seus tons de maniqueísmo. Mas o humor não deixa que a energia do filme vá por esse caminho.

O roteiro apresenta uma certa barriga por conta de recursos similares sendo usados em diversos momentos. Sempre que a história está a ponto de se resolver, os personagens começam a gritar e se desentender e a resolução volta à estaca zero. Por um momento, isso fica cansativo. Mas o carisma do elenco é tamanho e é tão bom ver uma obra infantil nacional esteticamente tão rica que o incômodo logo passa.

Nota da Editora: Fernando Fraiha tem nas costas a direção de curtas, do aclamado ''Choque de Cultura'', e seus derivados, além de longa-metragens de muito bom gosto como ''La Vingança'' (2016) e ''Bem Vinda, Violeta'' (2022). Fraiha também esteve no comando de dois episódios da série da menina Netflix ''Ninguém Tá Olhando'' (2019). O show venceu um ''Emmy Internacional'' como série de comédia brasileira. 

09 de Janeiro nos Cinemas

Escrito por Luana Rosa

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