quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Conclave, Edward Berger | Assista nos Cinemas


Desde o sucesso inesperado da nova adaptação cinematográfica do livro ''Nada de Novo no Front'', premiada com o Oscar de ''Melhor Filme Internacional'', em 2023, o mundo esperava com curiosidade qual seria o próximo passo da carreira do cineasta sueco Edward Berger. Novidades não demoraram, pois já em 2024 o diretor e roteirista levou seu novo filme para festivais de cinema pelo mundo. Com uma temática potencialmente polêmica, Berger deixou as trincheiras da guerra para se aventurar por uma disputa muito mais sutil, mas igualmente bombástica.

Com o falecimento do Papa, o Vaticano entra em polvorosa. Qual declaração oficial será divulgada ao mundo? Como proceder diante de uma perda tão significativa? À frente da condução protocolar desta crise está o Decano Lawrence (Ralph Fiennes), justamente quando ele próprio encara um dilema pessoal. Com sua fé na Igreja abalada e uma crescente frustração por estar resignado a um cargo administrativo, Lawrence se vê num fogo cruzado entre narrativas ideológicas e intrigas entre candidatos à eleição papal. Conforme a tensão se intensifica, tanto dentro quanto fora dos portões do Vaticano, e, alianças são rapidamente estabelecidas e desfeitas, se torna claro que a diplomacia talvez não seja o suficiente para conter os ânimos cada vez mais inflamados do jogo político nos bastidores da Igreja.

Tenso, cativante e inesperadamente engraçado, Conclave é um thriller ousado que usa o pano de fundo da Igreja Católica para analisar confrontos ideológicos que têm norteado relações interpessoais e decisões de Estado pelo mundo nas últimas décadas. O processo de eleição retratado carrega um senso de disputa, por vezes velada, por vezes escancarada, embebido em ambição política. Cada um dos candidatos ao poder representa sua própria vertente ideológica, progressista ou conservador em diferentes níveis. Sendo o recém-falecido Papa abertamente favorável a mudanças consideradas muito liberais, a ala reacionária logo se apressa para se mobilizar partidários. Cada oscilação na balança é sentida e as mudanças nas dinâmicas de poder dentro da estrutura ocorrem numa velocidade vertiginosa. A tensão é sublinhada pelo tom de urgência da trilha sonora composta por Volker Bertelsmann, colaborador já frequente de Berger.

             Crédito de Imagens: Indian Paintbrush, Access Entertainment, FilmNation Entertainment, House Productions

A obra adaptada sofre algumas alterações. Como exemplo, no livro, o personagem de Ralph Fiennes se chama Cardeal Lomeli

Por vezes adotando ares de filme de tribunal, por vezes flertando com o melodrama, Conclave não tem medo de ser provocativo ou pouco sutil. Seus personagens são falhos e carregam aspectos dolorosamente humanos em suas atitudes e escolhas. Enquanto o Decano Lawrence de Fiennes se esforça em fazer o que é certo (apesar de estar à beira de seu próprio colapso emocional), o incisivo Cardeal Aldo Bellini, vivido por Stanley Tucci, se mostra mais flexível a fazer politicagem em nome da continuidade do rumo progressista assumido pelo Papa anterior; o Cardeal Tremblay (John Lithgow) se mostra mais moderado, porém claramente está mais interessado em conquistar o poder do que defender uma crença; do lado conservador, Cardeal Adeyemi (Lucian Msamati) usa sua crescente popularidade para conquistar apoiadores, mas sua candidatura pode ser ameaçada por um segredo do passado, e Cardeal Tedesco (Sergio Castellitto) representa o mais extremista dos candidatos a Papa, defendendo a manutenção das tradições Católicas e demonstrando atitudes xenofóbicas e intolerantes a respeito de outras expressões religiosas. O único candidato aparentemente alinhado mais com os ideais de irmandade e benevolência do que com a ambição política é o Cardeal Benitez (Carlos Diehz), arcebispo de Cabul cuja existência quase ninguém no Vaticano conhecia até o início do conclave e é visto como outsider por todos. Esta coleção de personagens, incluindo a ótima Irmã Agnes interpretada por Isabella Rossellini, apresenta nuances igualmente diversas e promissoramente interessantes no sentido narrativo, tornando o desfecho da trama ainda mais imprevisível.

O novo longa de Edward Berger explora seus cenários impressionantes com uma câmera enxerida e decidida que insere o público dentro da ação, mas sem nunca parecer invasiva. Conclave poderia seguir uma linha sensacionalista e apelativa, mas opta por criar uma atmosfera de confronto psicológico interrompida aqui e ali por lapsos de beleza. Mesmo perante a dor da incerteza e da frustração, a obra celebra os descompassos que, para o bem ou para o mal, extraem das pessoas suas verdadeiras essências. Afrontoso e sagaz, é um exame de consciência não só da Igreja mas também da sociedade como um todo.

Trailer



Ficha Técnica
Título Original e Ano:  Conclave, 2024. Direção: Edward Berger. Roteiro: Peter Straughan - adaptação do livro homônimo de Robert Harris. Elenco: Ralph Fiennes, Stanley Tucci, John Lihtgow, Isabela Rossellini, Bruno Novelli, Lucian Msamati, Jacek Koman, Thomas Loibl, Brían F. O'Byrne, Rony Kramer, Valerio da Silva, Vicenzo Faila. Gênero: Drama, Supense. Nacionalidade: Reino Unido e EUA. Trilha Sonora Original: Volker Bertelmann. Fotografia: Stéphane Fontaine. Design de Produção: Suzie Davis. Edição: Nick Emerson. Figurino: Lisy Christl. Direção de Arte: Roberta Federico. Empresas Produtoras: Indian Paintbrush, Access Entertainment, FilmNation Entertainment, House Productions. Distribuição: Diamond Films Brasil. Duração: 02h00. 
A adaptação do livro homônimo de Robert Harris (disponível aqui) tem 278 indicações a prêmios diversos em Festivais ao redor do mundo. Oito destas em categorias anunciadas esta quinta-feira (23/01) junto as  nomeações do Oscar 2025.

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