terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Redenção, de Icíar Bollaín

 

“Depois de algo assim, não há alegria plena na vida”!


Conhecida por sua versatilidade e ânimo político, a premiada diretora espanhola Icíar Bollaín chama a atenção, neste filme, pela sua contenção dramática: ao invés de servir-se uma situação biográfica para extrair o choro do espectador, de maneira manipulatória, ela prefere erigir os estados de espírito de seus personagens de maneira pormenorizada, à medida que eles experimentam aquilo que sentem, culminando numa seqüência final primorosa. Para tal, a esplêndida entrega actancial de Blanca Portillo à personagem verídica é merecedora de aplausos!

Para quem não conhece os detalhes da política espanhola recente, demora-se um pouco a entender o que está acontecendo: a trama se inicia em 29 de julho de 2000, quando o governador civil da província basca de Guipúzcoa, Juan María Jáuregui [1951-2000], foi assassinado por integrantes do ETA (Euskadi Ta Askatasuna, traduzido como “Pátria Basca e Liberdade”), organização nacionalista, de caráter separatista, que, por décadas cometeu atos de extrema violência, em seus pretensos atos revolucionários – até ser extinta definitivamente em 2018. Os dois executores do referido político, Ibon Etxezarreta (Luis Tosar) e Luis Carrasco (Urko Olazabal) são presos, enquanto a esposa dele, Maixabel Lasa, chora a perda, junto à sua filha, Maria (María Cerezuela).

Passados alguns anos, Maixabel, que também era filiada ao Partido Socialista, tornou-se presidente de uma organização de apoio às vítimas de atentados políticos e, depois que um dos ex-militantes encarcerados escreve-lhe uma carta, pedindo para se desculpar pelos crimes que cometeu, ela aceita encontrar-se com aqueles que lhe fizeram tanto mal, ao ceifar a vida do homem que amava. Eis o que o roteiro da própria diretora, em colaboração com Isa Campo, reconstitui nesta ótima produção!

Trailer


Ficha Técnica

Título Original e Ano: Maixabel, 2021. Direção: Icíar Bollaín. Roteiro: Isa Campo e Icíar Bollaín. Elenco: Blanca Portillo, Luis Tosar, María Cerezuela, Urko Olazabal, Tamara Canosa, María Jesús Hoyos,  Arantxa Aranguren, Bruno Sevilla. Gênero: Biografia, Drama. Nacionalidade: Espanha. Trilha sonora: Alberto Iglesias. Direção de fotografia: Javier Agirre. Direção de arte: Mikel Serrano. Edição: Nacho Ruiz Capillas. Direção de som: Alazne Ameztoy. Design de som: Juan Ferro. Figurino: Clara Bilbao. Maquiagem: Karmele Soler. Cabelo: Sergio Pérez. Efeitos especiais: Ana Rubio. Produção: Guadalupe Balaguer Trelles. Produção executiva: Koldo Zuazua, Juan Moreno, Guillermo Sempere e Guadalupe Balaguer Trelles. Empresas Produtoras: Crea SGR,  Feelgood Media,  Euskal  Irrati  Telebista (EiTB), Depatamento de Cultura del Gobierno Basco,  Diputación Foral de Gipuzkoa, Instituto de Credito Oficial (ICO), Instituo de la Cinematografia y de las Artes Audiovisuales (ICAA), Kowalski Films,  Maixabel Film,  Movistar Plus+, Radio Televisión Española (RTVE). Distribuidora: Pandora Filmes. Duração: 01h555min.


Acompanhamos paralelamente as rotinas de Maixabel, em seus compromissos familiares e cerimônias enlutadas, e de Ibon, que, inicialmente, não concorda com Luis, quando ele externa o anseio de conversar com a viúva do homem que matou. Por não estar tão convicto acerca de seus ideais partidários, após mais de dez anos aprisionado, Ibon é hostilizado pelos antigos companheiros, quando volta para a casa de sua mãe (interpretada por Maria Jesus Hoyos), em seus dias de licença. Após alguma resistência interna, ele é afligido por sua própria consciência e decide também encontrar Maixabel Lasa…

Num estratagema sagaz de direção, Bollaín evitou que seus dois principais intérpretes se encontrassem, nos ensaios, até que fosse filmada a cena definitiva entre eles, o que confere extrema autenticidade a um doloroso e demorado diálogo. Nesta situação, Maixabel é convencida do arrependimento sincero de Ibon, ao passo em que ele repensa os arroubos de fanatismo em sua juventude, sem que precise abdicar de sua crença na constituição de uma nação basca soberana, algum dia. Com o diferencial de que, agora, não mais praticará violência contra desconhecidos para isso!

Crédito de Imagens: Crea SGR,  Feelgood Media,  Euskal  Irrati  Telebista (EiTB), Depatamento de Cultura del Gobierno Basco,  Diputación Foral de Gipuzkoa, Instituto de Credito Oficial (ICO), Instituo de la Cinematografia y de las Artes Audiovisuales (ICAA), Kowalski Films,  Maixabel Film,  Movistar Plus+, Radio Televisión Española (RTVE).
O  longa foi radado em Guipuzcoa e Alava, na Espanha

Centrado primordialmente nas interpretações de seu extraordinário elenco, “Redenção” faz jus ao substantivo contido em seu título brasileiro, enquanto o título original (‘Maixabel’) referia-se diretamente à personalidade real, orientando os espectadores a pesquisarem algo sobre a sua corajosa trajetória, tanto pessoal quanto pública. O enredo, entretanto, concede iguais oportunidades a pessoas que estão em vértices opostos da tragédia: de um lado, uma mulher que precisa seguir em frente, mesmo sentindo-se emocionalmente destruída; do outro, homens que se percebem íntima e coletivamente abandonados. Numa seqüência brilhante, Ibon passa diante de locais onde ocorreram assassinatos e atentados e, dentro de seu automóvel, ouve o som de tiros e das explosões do passado. Perdoar a si mesmo é mais difícil!

Para que o filme se demonstre tão pungente, a colaboração habitual do músico Alberto Iglesias, em relação à diretora, foi fundamental, no sentido de que seus acordes sutis e delicados apenas ressaltam as emoções manifestas, evitando uma condução exacerbada das mesmas. Tanto que, no derradeiro instante, na área do memorial construído em homenagem ao falecido Juan María Jáuregui, apenas as vozes dos atores são ouvidas, chorando e cantando em uníssono, frente a um túmulo que, antes daquele momento, foi vandalizado diversas vezes. No cotejo com as ações antidemocráticas ocorridas no Brasil, “Redenção” oferta uma impressionante demonstração de maturidade afetiva e política. Um filme necessário em múltiplas instâncias, portanto!

EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS

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