sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

O Homem-Cão, de Peter Hastings


É inicio de ano letivo e a criançada ganha uma animação para se entreter ao lado dos pais nas salas de cinema de todo o Brasil. ''O Homem-Cão'', longa colorido e divertido com assinatura na direção e no texto por Peter Hastings já está em cartaz. Adaptação da serie de livros criada por Dav Pilkey (mesmo responsável pelas obras do Capitão Cueca), a produção tem vozes originais de Pete Davidson, Billy Boyd, Isla Fisher, Poppy Liu e Ricky Gervais. No Brasil, Gil Mesquita, Gustavo Pereira, Rodrigo Oliveira, Flavia Fontenelle, Sergio Stern e Bernardo Lopes são o elenco brasileiro que auxilia a levar a trama para as telas. 

O Policial Rocha, um baita oficial, e seu super cachorro Greg (ambos com trabalho de latido e vozes do próprio diretor, na versão original, e de Gil Mesquita no áudio dublado) vivem aventuras atrapalhadas onde não se sabe se o animal é mais esperto que o dono ou o dono que não é esperto o suficiente e o cachorro supre toda esta parte. Certo dia o super vilão Pepê, o Gato (voz de Gustavo Pereira) foge da prisão e a dupla está a todo vapor em seu encalce e tentando proteger a vizinhança quando um cálculo errado, ao eliminar uma bomba, faz com que o homem e o cachorro fiquem com partes de seus corpos prejudicadas e as médicas de plantão têm a super idéia de unir as melhores delas para que nem o defensor da lei e nem o seu cãozinho sejam esquecidos. É assim que nasce ''Dog Man'', ou melhor, ''O Homem-Cão''. A união da cabeça de Greg com o corpo do Policial. Algo totalmente inusitado, mas que funciona, pois o amável e carinhoso novo policial humano-canino consegue satisfazer a sociedade entregando o que sabe fazer de mais extraordinário no trabalho, que é defender os mais fracos. Enquanto isso, Pepê, o Gato está em seu esconderijo, um prédio reluzente que ostenta uma placa com os dizeres ''Escoderijo do Pêpe'', a matutar sobre como fará para destruir a todos e conquistar o que sobrar do mundo. Assim, decide replicar seu DNA para ter dois cérebros mirabolantes e de repente fazer tudo mais rápido. O que ele não esperava é que o experimento nasce como um bebê gatinho, o Pepezinho (voz de Bernardo Lopes). O novo pai não aceita muito esse doce serzinho que chega ao universo, até mesmo por apresentar que tem problemas com o abandono da figura paterna.

Os dias passam, as situações acontecem, e, por um acaso, pepezinho vira amigo de Dog Man e os dois criam laços que nem mesmo Pepê sabia que poderiam existir. Um ciúme enorme cresce no felino e ele corre atrás de seu pequeno eu. Por sua vez, consegue abater a força emotiva do policial cachorro que fica desolado por perder o novo amigo. Neste momento, Pepê também vai reencontrar o pai e pepezinho o avô (Stephen Root/Tatá Guarnieri) e o trio vai entender que não importa o carinho ou o desafeto presente, Pepê estará sempre em movimento para construir algo capaz de destruir a cidade e a acabar com a paz. O Chefe de Polícia (Lil Rel Howery/Rodrigo Oliveira) e a jornalista Sarah Hatoff (Isla Fisher/Flavia Fontenelle) no meio de toda essa bagunça televisionada vão até descobrir um romance e um peixe robô chamado Flippy (voz do genial Ricky Gervais na versão original e do renomado dublador Sergio Stern) pode virar o jogo e ser o motivo da união de vilões e mocinhos por um bem comum. Uma baita onda hilária tudo isso.

                                     Crédito de Imagens: © 2025 DreamWorks Animation LLC. All Rights Reserved.
O Homem-Cão é um spin-off de ''As Aventuras do Capitão Cueca'', (Scholastic, 1997). A obra, que conta com várias continuações, também virou filme pelas mãos de David Soren, em 2017.
 
O filme inclui easter-eggs para os fãs do Capitão Cueca como personagens queridos sentados em um banco, frases em layouts pela cidade, ou desenhos que remetem ao traço dos livros. Aliás, a animação tem um design arrojado que encanta e não deixa de trazer referências essencias aos quadrinhos. A trilha sonora original, com composição de Tom Howe, lembra um pouco as grandes trilhas de filmes de ação como ''Missão Impossível'' (Brian De Palma, 1996) e  tem dedo do diretor que ainda conseguiu fazer um dos dubladores (Yung Gravy) gravar um remix super incrível do clássico ''I Feel Good'', de James Brown, para o que virou a música ''SUPA GOOD!!!" (escute aqui). Em algum momento da animação também será possível ouvir um trecho da canção ganhadora de Grammy da cantora Miley Cyrus, ''Flowers''. 

    Crédito de Imagens: © 2025 DreamWorks Animation LLC. All Rights Reserved.
Para os mais grandinhos, a junção de um cachorro e um homem poderá remeter ao clássico dos anos 80 '' Robocop'', de Paul Verhoeven, onde um policial é acoplado a um robô.

A animação tem um teor cômico digno, porém, sagaz e ainda que aborde questões familiares de forma mais rasa, como quando fala do abandono paternal sofrido por Pepê, o Gato, tem sua eficácia e consegue emocionar. A reviravolta que se desenrola faz com que a audiência reflita de um jeito sutil sobre as fases da vida em que se está mais pre-disposto a ser vilão ou mocinho, pois algo que pode acontecer terá efeito sobre a vida de todos ali. Ademais, é bonito ver que há espaço para retratação, pois até mesmo em lugares sem afeto, uma semente pode fazer a diferença para mudanças positivas.

Ponto super gracioso da dublagem brasileira que sempre faz seu trabalho de entregar aos espectadores um filme muito bem interpretado e com contextos culturais abrasileirados. E sim, as cópias do longa , em sua maioria, são para sessões dubladas, mas é um dever deixar aqui a dica para que você leitor, assim que o filme chegar as plataformas digitais, busque assistir a versão original e conheça a maestria que é ver comediantes como Pete Davidson e Ricky Gervais soltando todo o seu talento teatral.

Trailer
 
 

Ficha Técnica
Título Original e Ano: Dog Man, 2025. Direção: Peter Hastings. Roteiro: Peter Hastings - adaptação da série de livros infantis criada por Dav Pilkey. Vozes Originais: Pete Davidson, Ricky Gervais, Isla Fisher, Billy Boyd, Rahnuma Panthaky,Peter Hastings, Stephen Root, Cheri Oteri, Laraine Newman. Vozes Brasileiras: Gil Mesquita, Gustavo Pereira, Rodrigo Oliveira, Flavia Fontenelle, Sergio Stern, Bernardo Lopes, João Cappelli, Tatá Guarnieri, Jeane Maria, Sarito Rodrigues, Márcia Morelli, Verônica Rocha e Yan Gesteira. Gênero:Comédia, Aventura. Nacionalidade: Estados Unidos Da América. Trilha Sonora Original: Tom Howe. Direção de Arte: Christopher Zibach. Artista de Animação: Aziz Kocanaogullari. Edição: Brian Hopkins. Design de Produção: Nate Wragg. Produtores: Bianca Margiotta, Karen Foster, Dav Pilkey. Empresas Produtoras: DreamWorks Animations, Treehouse Comix, Universal Pictures. Distribuição: Universal Pictures Brasil. Duração: 1h29min. 
Através da surrealidade do inicio da narrativa pela transformação do personagem, o público vai acabar conhecendo um uma história sobre amizade, afeto, relações entre pais e filhos e tudo isto com muito humor.

Avaliação: Dois prédios gigantes caminhando pela cidade com setenta e cinco luzes acesas e muita música dançante (2.75/5).

EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS

Os Radley, de Euros Ly


Este texto pode conter spoilers
 
Publicado em 2010 no Reino Unido, o livro de Matt Haig ''The Radleys'' ganhou lançamento no Brasil três anos mais tarde pela Record (veja aqui). Em 2024, a narrativa foi transformada em filme com produção da Sky, Ingenious Media, Genesius Pictures e Cornestone Films. A película apresenta uma família aparentemente normal, mas que, na verdade, são vampiros em negação. O clã ganha vida com o auxilio dos atores Damian Lewis, que acaba sendo a face do patriarca Peter Radley e de seu irmão gêmeo Will, Kelly Macdonald é Helen Radley, esposa de Peter e juntos o casal tem dois filhos adolescentes, Rowan, papel de Harry Baxendale, e Clara, interpretada por Bo Bragason.

Belo dia de festa para a família, os jovens da região decidem também fazer um pequeno encontro pelas redondezas, beber uns drinks e quem sabe ficar de pegação entre eles. O vizinho da família, Evan, vivido por Jay Lycurgo, é o gatinho da escola e deixa não só meninas, mas meninos interessados nele, como é o caso de Rowan. Ainda que este último esconda de todos o que esteja sentindo. Durante o encontrinho, Evan cai nos braços da descolada Tilly, personagem de Madeleine Power, o que deixa Rowan enciumado, mas acomodado a situação por se sentir não pertencente ao grupo. A irmã do garoto, Clara, acaba decidindo retornar para casa mais cedo quando sofre um ataque de um dos jovens que estava no meio da galera. Decidida a não deixar que nada a aconteça, se enfia na mata correndo, contudo, o rapaz a alcança. No momento em que ele está tentando a despir, algo inusitado acontece e Clara empurra o garoto com força fazendo este sair voando para longe. A raiva, misturada ao medo e frustração pela situação, faz com que a menina-mulher liberte quem realmente é, uma vampira. Assim, o caçador se torna a presa e não tem exatamente um final feliz. 
 
O acidente faz com que Peter e Helen revelem aos filhos quem todos eles realmente são, todavia, explicam que estão em abstinência e não levam aquela vida sangrenta mais. Peter então recorre ao irmão Will e pede que ele venha a Whitby, onde eles vivem, para ajudar a resolver a situação e sumir com o corpo do menino. No momento que o homem chega ao lugar, Helen acaba tendo problemas em lidar com seus sentimentos, pois no passado foi seduzida por Will, apesar de amar Peter. Rowan e Clara também acabam ganhando exemplos de vivência do tio que libertam um pouco da ferocidade vampiresca que eles têm, além da sexualidade de ambos estar pulsante. Com toda a estranhice dos acontecimentos, o pai de Evan, Jared, vivido por Shaun Parkes, entende que algo perigoso pode estar acontecendo com a família e por ser um crente em histórias de vampiros, alerta o filho que não se aproxime dos Radley por temer que o aconteça algo também. Jared esconde do filho, na verdade, o porque a mãe do garoto os abandonou e vive atordoado com essa crença de que há vampiros em todos os lugares e eles não estão seguros.

A produção consegue trazer aquela sensação de se estar em solo britânico de filmes para a tevê ou até séries como ''Being Human'' (BBC, 2008-2013) - para alguns, essa particularidade pode ser agradável. Apresenta um elenco que convence em suas performances e uma comédia minuciosa misturada ao teor vampiresco, que não é lá tão forte por se tratar de uma virada de chave para os próprios personagens. O filme tem estreado mundo afora desde agosto, quando passou pelo ''Festival Internacional de Cinema de Edimburgo'' e o Brasil é sua última janela de estreia.
 
 Crédito de Imagens: Paris Filmes - Divulgação
A história se passa em ''Whitby'', na Inglaterra, mesmo lugar em que o Conde Drácula aterroriza quando foge de sua terra natal
 
Euros Ly embala o espectador com uma direção centrada e sem muitos destaques. Há  um manejo muito de realidade e praticidade. O que diferencia o filme de outros com a mesma temática. A filmografia de Ly é carregada pela direção de episódios de inúmeras séries aclamadas  como ''Heartstopper'' (Netflix, 2022-2023), "Broadchurch" (ITV, 2013-2017), "Black Mirror" (Netflix, 2011) e "Doctor Who" (BBC,2005-atual). Em 2020, foi diretor do longa biográfico sobre um cavalo de uma galesa em ''O Cavalo dos Meus Sonhos''com Toni Collette e o próprio Damian Lewis. O ator tem uma bel carreira no Reino Unido e se divide entre séries e o cinema. de 2011 a 2014, esteve na série norte-americana de sucesso ''Homeland'' (Showtime). Aqui dá um show ao interpretar dois vampiros completamente opostos visto que Peter é um médico e se abstêm de uma vida mais livre, enquanto Will é o puro suco da libertinagem e não se reprime como o irmão. A escocesa Kelly Macdonald também é uma atriz renomada no Reino Unido e esteve em filmes como "Adeus, Christopher Robin" (Simon, Curtia, 2017) e "Onde Os Fracos Não Tem Vez" (Joel Coen e Ethan Coen, 2007). A atriz dublou a voz original da princesa da Disney "Merida" em "Valente" (Brenda Chapman e Mark Andrews, 2012).
 
 Trailer
 

 
 Ficha Técnica
 
Título Original e Ano: The Radleys, 2024. Diretor: Euros Ly. Roteiro: Talitha Stevenson, desenvolvimento de texto por Jo Brand - adaptação do Livro homônimo de Matt Haig. Elenco: Damian Lewis, Kelly Macdonald, Sophia Di Martino, Steven Waddington, Bo Bragason, Jay Lycurgo, Shaun Parkes, Harry Baxendale, Madeleine Power. Gênero: Drama, Comédia, FantasiaNacionalidade: Reino Unido. Trilha Sonora OriginalKeefus CianciaFotografia:Nanu SegalEdição: Jamie PearsonFigurinoJoanna EatwellDesign de Produção: Sarah Jenneson. Produtores:  Barry Brooker, Stan Wertlieb, Alison ThompsonEmpresas Produtoras: Sky, Ingenious Media, Genesius Pictures e Cornestone Films. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 1h55min.

 

O longa não é um terror, apesar da temática vampiresca, e retrata temáticas comuns na abordagem familiar como sexualidade teen, relações conjugais e traição. Na certa, um filme com um bom texto e consistente no seu entretenimento.

AvaliaçãoTrês garrafinhas de sangue (3/5).

EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS 



quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Último Alvo

 
Ao longo de sua carreira, o ator irlandês Liam Neeson, passeou por gêneros, estrelou grandes filmes, como ''A Lista de Schindler'' (Steven Spielberg, 1993), e nos anos 2000 virou sinônimo de 'ator de filmes de ação' a partir de sua entrega dedicada ao papel de um pai vingativo com o sequestro de sua filha no longa de Pierre Morel ''Busca Implacável'' (2008) e suas continuações. Neste inicio de ano, o artista irá surpreender seu público fiel com um drama que toca fundo nas conturbadas relações familiares e aborda um tema extremamente sensível, muito mais compatível com seus 72 anos de vida.
 
Dirigido pelo norueguês Hans Petter Moland, com roteiro de Tony Gayton, “Último Alvo” traz no elenco, além de Neeson como o protagonista Thug, Ron Perlman (Charlie Connor), Frankie Shaw (Rosie), Daniel Diemer (Kyle Connor), e Yolanda Ross (namorada).
 

Thug, um boxeador aposentado que recorda com saudosismo seus tempos áureos, é também um gangster idoso, que passou toda sua vida negligenciando as relações familiares em prol de gerir os trabalhos escusos do chefe do crime Charlie. Atualmente, Charlie está empenhado em passar seu legado de crime para o filho Kyle, que não leva muito jeito para a coisa. Thug é meio que um mentor do rapaz e se empenha em apresentar as negociatas para o herdeiro novato. Entretanto, o idoso começa a apresentar lapsos de memórias cada vez mais frequentes, chegando ao ponto de não lembrar o nome do chefe. Um caderninho de anotações o ajuda a se recordar, contudo, de coisas importantes. Na sequência, ao ir a uma consulta médica, ele recebe o cruel e definitivo diagnóstico de ''encefalopatia traumática crônica'' resultante de graves lesões cerebrais oriundas das pancadas do boxe. A doença o levará a um declínio acentuado de suas faculdades mentais, culminando com a incapacidade de cuidar de si próprio, pois não há tratamento.

 
Perdido e enfrentando uma crise pessoal, Thug se envolve emocionalmente com uma mulher que conhece ao acaso em um bar, mas ela também apresenta sérios desequilíbrios emocionais. Só resta ao idoso, tentar uma reaproximação com sua família para se reconectar com seu passado e se redimir de suas escolhas erradas. Sua filha Rosie e os netos, desconhecendo o quadro crítico do gangster, relutam em reatar qualquer laço de amizade. Ele nem se lembra do nome de seu outro filho e não se tem memória do que causou a morte do rapaz anos atrás.
 
Crédito de Imagens: Thug Movie Productions, Arts District Entertainment, Electromagnetic Productions, Sculptor Media -  Imagem Filmes | Divulgação
 A produção foi rodada na cidades de Boston e Norwood, Massachussets, nos Estados Unidos da América
 
 
A trama segue alternando a trajetória criminosa de Thug tentando driblar os lapsos de memória com sua tentativa de se reconectar com a família. A película é um tanto triste e enfadonha, resumindo-se a uma análise da personagem e das deprimentes mazelas de todos que o cercam.

Lian Neeson entrega uma personagem extremamente crível, com olhares distantes e perdidos e situações deprimentes como quando o homem se vê perdido sem lembrar seu próprio endereço.
 
A ambientação e trilha sonora contribuem para enfatizar o vazio de um homem que desperdiçou sua vida, cultuando a violência e o crime e agora vê a idade cobrar seu preço.

Aquele tipo de filme que não chega a incomodar, mas que também não marcará seu lugar na história e tal qual a personagem cairá no esquecimento rapidamente.

Trailer
 

 
Ficha Técnica

Título Original e Ano: Absolution,2024. Diretor: Hans Petter Moland. Roteiro: Tony Gayton. Elenco: Liam Neeson, Ron Perlman, Javier Molina, Yolanda Ross, Jimmy Gonzales, Daniel Diemer, Brian A. White. Gênero: Ação, Policial, Drama, Thriller. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Kasper Kaae. Fotografia: Philip Remy Øgaard. Edição: Dino Jonsäter. Figurino: Deborah Newhall . Design de Produção: Jørgen Stangebye Larsen. Direção de Arte: Ana Weiss. Produtores: Warren Goz e Eric Gold, Roger Birnbaum e Michael Besman. Empresas Produtoras: Thug Movie Productions, Arts District Entertainment, Electromagnetic Productions, Sculptor Media. Distribuição: Imagem Filmes. Duração: 1h52min.

Avaliação: Ops! Esqueci.;)

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

O Brutalista, de Brady Corbet


Certos filmes são impulsionados pela aura da narrativa comercial e/ou artística de sua criação, por vezes a ponto de sua relevância mercadológica depender direta ou indiretamente de tal faceta. Narrativas assim geralmente nascem (ou são fabricadas) durante Festivais de Cinema e vão crescendo aos poucos. As que são devidamente alimentadas sobrevivem até sua maturidade, na temporada de premiações, quando é chegada a hora da verdade e o mundo descobre quais delas foram convincentes o suficiente para serem traduzidas em troféus dourados. Não é uma ciência exata: alguns filmes genuinamente ruins são premiados devido à narrativa certeira de sua campanha, outros que nascem como novos clássicos são descartados por não serem vendidos apropriadamente. E assim continua girando a roda de Hollywood. Tratando-se de narrativas comerciais baseadas em conservadorismo cinematográfico, poucas foram tão longe quanto a da campanha de O Brutalista, novo longa do cineasta Brady Corbet e grande candidato a ''Melhor Filme do Ano'' em diversas publicações e premiações. Aliás, o longa-metragem foi agraciado com o prêmio de ''Melhor Filme de Drama'' no Globo de Ouro 2025 e desponta como franco favorito ao Oscar. Mas a questão é: as narrativas comerciais envolvendo o filme se sobressaem à qualidade da obra em si?

Judeu sobrevivente do Holocausto, o influente arquiteto húngaro László Tóth (Adrien Brody) migra para os Estados Unidos fugido de um campo de concentração, alheio ao fato de que sua esposa Erzsébet (Felicity Jones) e sua sobrinha Zsófia (Raffey Cassidy) estão vivas. Quando é deixado na mão por seu primo Attila (Alessandro Nivola), Lászlo é acolhido pelo magnata Harrison Van Buren (Guy Pearce), que reconhece seu talento e lhe oferece um trabalho ousado: criar um ambicioso conjunto arquitetônico modernista em homenagem à recém-falecida matriarca do clã Buren. Agora reunido com sua família, Lászlo vê no projeto o auge de sua carreira e passa a investir todo seu tempo e energia na empreitada. Logo, atritos com burocracias e com o ego de Harrison põem em cheque a paz do imigrante e ameaçam a já delicada harmonia de seu casamento.

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Ficha Técnica

Título Original e Ano: The Brutalist, 2024. Direção: Brady Corbet. Roteiro: Brady Corbet e Mona Fastvold. Elenco: Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pearce, Joe Alwyn, Raffey Cassidy, Stacy Martin, Isaach De Bankolé, Alessandro Nivola. Gênero: Drama. Nacionalidade: Eua, Reino Unido, Hungria. Trilha Sonora Original: Daniel Blumberg. Fotografia: Lol Crawley. Edição: Dávid Jancsó. Design de Produção: Judy Becker. Direção de Arte: Alexander Linde, Csenge Jóvári, Virág Tyekvicska. Figurino: Kate Forbes. Produtores: Trevor Matthews, Nick Gordon, Brian Young, Andrew Morrison, Andrew Lauren, D.J. Gugenheim. Empresas Produtoras: Brookestreet Pictres, Kaplan Morrison, Andrew Lauren Productions. Distribuição: Universal Pictures. Duração: 03h36min.


A epopeia superlativa de Brady Corbet foi idealizada desde o início para impressionar. Filmado quase que inteiramente em formato VistaVision 35 mm (e com um material bruto de surreais 700 terabytes de filmagens!), a intenção do longa era abraçar a estética do período no qual se passa, entre as décadas de 1940 e 1950. A granulação da imagem, a profundidade do campo de visão, as texturas ressaltadas e as belas imperfeições cinematográficas que apenas a magia analógica é capaz de proporcionar estão aqui, garantindo um purismo raramente visto atualmente. Tamanha façanha por um orçamento inacreditavelmente enxuto: o investimento de produção em O Brutalista sequer chegou a 10 milhões de dólares, um valor inversamente proporcional à escala ambiciosa do projeto.

Com um intervalo de 15 minutos entre seus dois atos principais, o longa-metragem é apresentado para emular a experiência de um filme “das antigas”. Tais escolhas, contudo, não se limitam apenas à parte estética do longa: o roteiro, escrito por Corbet em parceria com sua esposa Mona Fastvold, homenageia narrativamente obras seminais que fundamentaram o Cinema como o conhecemos hoje. Aqui parece ter pitadas de O Poderoso Chefão Parte II (Francis Ford Coppola, 1974), e grandes doses de Era Uma Vez na América (Sergio Leone, 1984): filmes que refletem sobre a ilusão do conceito idealizado da “América”, um império reluzente e que promete inúmeras oportunidades, mas que acaba se revelando uma armadilha perigosa, um delírio capitalista capaz de corromper e que, na prática, não passa de um sonho. O Brutalista pega emprestado o teor crítico e o cenário subjetivo de suas referências, se inspirando ainda em Paul Thomas Anderson, carregando elementos de Sangue Negro (2007), O Mestre (2012) e Trama Fantasma (2017).

O longa (bastante longo) de Corbet, entretanto, falha em construir uma base que faça jus às fontes das quais bebe. Apresentando um melodrama numa roupagem um tanto formuláica de ''Grande Épico Americano'', O Brutalista foca mais no seu apuro visual do que na construção de sua história, carecendo da visceralidade e autenticidade necessárias para ser considerado tão relevante quanto se propõe a ser. Um dos ingredientes que mais fazem falta neste caldeirão de referências é a ambiguidade. Com personagens construídos de forma maniqueísta, não existem aqui muitas nuances a serem exploradas pelo elenco, deixando claro que o ponto forte da saga de Lászlo é realmente sua estética. E nisso O Brutalista não falha em nenhum momento. A proporção grandiloquente e o esmero empenhado no design de produção caprichado são ressaltados pela excelente direção de fotografia, que combina uma grandiosidade classuda com uma sobriedade quase documental, inserindo o público dentro das cenas através de perspectivas de câmera subjetivas e tremidas.

                                                                        Crédito de Imagens: © Universal Pictures
O filme foi apresentado em diversos Festivais de Cinema, entre eles, a última edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.


A montagem do filme busca reproduzir tonalmente princípios do Brutalismo, dividindo a história em blocos (abertura, parte 1, parte 2 e epílogo) de forma crua e sem muita preocupação com refinamento. O ritmo da edição, que combina cenas entrecortadas com takes longos, é ditado pela trilha sonora imponente de Daniel Plumber, gravada antes das filmagens e importante para garantir que a gargantuesca duração da película não soe tão cansativa quanto ameaça ser. Infelizmente a decisão de inserir um intervalo de 15 minutos entre as duas partes do filme evidenciam o descompasso narrativo entre elas. Se a parte 1 do longa é bem estruturada e coesa, um convite para um passeio que apresenta conceitos e visuais estimulantes, a parte 2 soa como um monólogo longo e melodramaticamente desafiador que beira o caricato.

A narrativa comercial de O Brutalista parecia sólida o suficiente para conquistar a Academia, mas a campanha do filme não contava com a repercussão negativa à revelação do uso de IA generativa na pós-produção do filme, especificamente referente ao uso da tecnologia ''Respeecher''. A ferramenta de IA é capaz de modificar vozes e foi usada pela equipe do filme para editar diálogos em húngaro, refinando a pronúncia de Adrien Brody e de Felicity Jones para aperfeiçoar suas performances num nível que nem o trabalho com uma treinadora de dialetos nem a redublagem com ADR foram capazes. Tal estratégia foi interpretada por algumas pessoas como no mínimo contraditório (e por outras como uma tremenda hipocrisia), uma vez que a produção se vende como um filme feito aos moldes tradicionais. Tal polêmica não parece ter prejudicado o desempenho do produto final na campanha de premiações, mas foi o suficiente para suscitar questionamentos sobre a qualidade das performances de Brody e Jones, algo que o diretor Brady Corbet rechaçou, sendo categórico que nada nas interpretações foi modificado, apenas refinado. Vale a pena conferir para tirar suas próprias conclusões.

O Brutalista é inegavelmente um deleite visual, um tour de force que merece ser assistido na maior tela possível. Porém, ainda que levante reflexões interessantes sobre masculinidades, xenofobia e preconceito de classes e funcione como uma análise acerca da construção da sociedade moderna dos Estados Unidos, o longa nunca se aprofunda em nenhuma dessas questões, apresentando-as mais como notas de rodapé do que como realidades textuais. Acaba soando como um exercício vazio que preza mais pela narrativa artística, conceitual e estética do que pela narrativa substancial de seu roteiro. Ironicamente, para um filme que tem o Brutalismo como ingrediente principal, O Brutalista não tem muito de concreto a oferecer.

20 de Fevereiro Nos Cinemas

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Bridget Jones: Louca Pelo Garoto

 
Acompanhar Bridget Jones ao longo da vida é deveras satisfatório. Para além da narrativa ''felizes para sempre'' que muitas comédias românticas seguem, é bonito continuar assistindo, ou até mesmo lendo (a personagem surgiu de uma adaptação dos livros de Helen Fielding) as aventuras desta inglesa fora do padrão, interpretada pela atriz ganhadora de dois prêmios Oscar Renée Zellweger. E com Bridget Jones: Louca Pelo Garoto, filme dirigido por Michael Morris, que estreia nesta quinta-feira (13), o espectador não só assistirá seus devaneios românticos como irá além das peripécias da solteirona de trinta e tantos e será surpreendido com a jornada de uma mulher mais velha no protagonismo de sua própria vida. 
 
Não é surpresa para ninguém que o personagem de Colin Firth, o adorado advogado de direitos humanos Mark Darcy, esteja morto neste novo longa e que nós damos de cara com uma Bridget viúva, descabelada e despreparada para lidar com o luto dela e dos dois filhos. E não pela primeira vez, o público possa vir a ficar chateado com tal escolha para a trama, já que o livro de mesmo título, lançado no Brasil em 2013 pela Cia das Letras, também foi muito criticado pelos fãs. 

E ainda que a falta de Darcy seja algo palpável no longa, justamente pelo luto dos personagens e pelo apego que todos tem à ele, o filme consegue nos fazer lidar com esse sentimento e seguir, quase que de mãos dadas com a Bridget, rumo a uma vida pós-Darcy. Porque continuar é preciso. E é lindo assistir a uma mulher 50+ lidando com seus sentimentos, desejos, medos, inseguranças, tristezas e alegrias. Isso tudo enquanto ainda enfrenta o sentimento de culpa por se sentir uma péssima mãe.


Trailer 
 
Ficha Técnica
 
  • Titulo Original e Ano: Bridget Jones: Mad About The Boy, 2025. DireçãoMichael Morris. Roteiro: Helen Fielding, Dan Mazer, Abi Morgan e baseado no livro homônimo de Helen Fielding. Elenco: Renée Zellweger, Mila Jankovic, Casper Knopf , Elena Rivers, Hugh Grant, Colin Firth, Sally Phillips, Neil Edmond, Dolly Wells, Mark Lingwood, Anat Dychtwald, Penny Stuttaford, Emma Thompson, Isla Fisher, Jim Broadbent, Chiwetel Ejiofor. Gênero: Comédia Romântica, adaptação. Nacionalidade: Reino Unido, França, EUA. Trilha Sonora Original: Dustin O'Halloran. Fotografia: Suzie Lavelle . Edição: Mark Day. Design de Produção: Kave Quinn. Direção de Arte: Andrea Matheson k. Figurino: Molly Emma Rowe. Empresas Produtoras: Universal Pictures, StudioCanal, Miramax, Working Title Filmes. Distribuição: Universal Pictures Brasil. Duração: 02h04min.

Na comédia romântica, a audiência é introduzida a nova dinâmica de amizade e um certo companheirismo entre ela e Daniel Cleaver, interpretado por Hugh Grant. O homem está charmoso como sempre e nesta obra atua como uma espécie de tio/babá dos filhos de Bridget (quem diria?). Aliás, é interessante pensar como até os mais lixos dos personagens fictícios desse universo, conseguem nos conquistar com tanto carisma. Cria-se certo apreço pela forma em que os homens são construídos nessas obras, quase que como figuras que estão ali para servir e para agregar a história da mulher e não o contrário. E mesmo nos piores momentos em que estão competindo entre si ou quando são babacas, consegue-se vislumbrar uma espécie de vulnerabilidade que é desenvolvida de maneira saudável. Por isso, personagens como Mark são tão impactantes, mas até mesmo Daniel tem o seu apelo. Não esquecendo, claro, que todos eles bebem da forte de 'personagens literários' e que são de criação de Jane Austen na obra ''Orgulho & Preconceito'' (1813).

Mas voltemos ao que interessa: ver Bridget Jones se descobrir é lindo. E não é exatamente sobre sua descoberta de trinta e tantos, mas do seu envelhecimento. Assim, esta mulher de cinquenta anos tem dentro de si uma vontade de ser algo a mais e continuar caminhando. No alto de todos os constrangimentos (foram muitos) e todas as lições que ela aprendeu, saber que ainda há mais vida para se viver, é acalentador. É um convite para todas as mulheres e meninas, para que não se sintam sós enquanto crescem e envelhecem. Porque assistir Bridget passar por mais algumas situações vergonhosas, enquanto vive outros amores, volta a trabalhar e se sente viva o suficiente para cometer novos erros, traz a consciência de que é sempre tempo de abraçar o caos da vida.
 
                                                           Crédito de imagens: © 2025 Universal Studios. All Rights Reserved.
 ''O Diário de Bridget Jones'' foi lançado em 2001 e a heroína dos atrapalhados retornou ao cinema para continuações em 2004 e 2016. 

 A nova produção presta uma homenagem aos filmes anteriores, logo, podemos ver alguns figurinos clássicos da Bridget como a “calçola sexy” e a blusa transparente, e principalmente, temos a surpresa de ver o amado e inesquecível suéter de natal do Darcy, que neste filme é usado pelo filho em uma festa de ano novo. Mas o longa também repete situações constrangedoras, as ressignificando e mostrando que a mulher sempre vai ser questionada e invalidada. Em uma cena no início do longa, temos Bridget na mesa de jantar com parentes e amigos que estão reunidos na data em que marca quatro anos da morte de Mark. Ela é quase um espelho de outro jantar em que Bridget esteve no primeiro filme. Se no primeiro, aliás, ela foi julgada por ser uma solteirona, neste jantar os demais debatem abertamente sobre o fato dela ser uma mulher mais velha e viúva. Sempre uma inquisição desnecessária. E enquanto todos à sua volta lhe dão conselhos contraditórios sobre como ela deve “superar” o luto, Bridget se sente presa a essa dor.

Mas é então que ela aos poucos vai encontrando dentro de si a força de vontade para começar de novo. Um possível pensamento de quase toda assídua consumidora de filmes de romance, inclusive, pode estar relacionado ao medo de que ''Louca Pelo Garoto'', aborda a trope narrativa de ''Mulher Mais Velha x Homem Mais Novo''. Mas novamente, a saga da Bridget soube entregar tudo na medida certa. Bridget se envolve com Roxster “Roxby” Mcduff (Leo Woodall), um homem de 29 anos que pode ser descrito como o cara perfeito. O rapaz até faz uma conta em um aplicativo de namoro só para chamar a atenção da nossa protagonista. 
 
A presença de Roxster (Leo Woodall) na história, seja para representar a redescoberta sexual de Bridget, que achava não ser mais interessante e também não sabia se poderia se interessar por alguém novamente, tem força e mexe com as novas percepções de vida desta última. As cenas de intimidade dos dois são sensuais, charmosas e engraçadas. Inclusive, Roxster nos presenteia com mais uma típica cena de homem bonito molhado, só que desta vez, em um ato heroico, ao pular na piscina para salvar um cachorro. Assim, ''a saga'' não deixa morrer, a tradição que é iniciada na cena de Colin Firth, na série adaptada do clássico de Austen, em 1995, e continuada pelo personagem de Hugh Grant caindo no lago no filme de 2001. 

Enquanto ela vive a paixão avassaladora com Roxster, a mulher também lida com dilemas domésticos e do trabalho. Além de passar por inúmeras situações com a escola dos filhos, tendo que interagir com pais e mães arrogantes, uma babá perfeita e com o professor Scott Walliker (Chiwetel Ejiofor). Ele é um pouco brusco e insensível a princípio, mas a declaração de amor que este último faz para Bridget, faz o coração ficar quentinho. Salpicando o filme com a torcida para ver uma mulher doida como a Bridget ser desejada e admirada.

Com Scott, ou o senhor Walliker, como ele é chamado, temos uma visão do dia a dia na escola de Billy, o filho mais velho de Mark e Bridget. Ele sente uma falta imensa do pai e um medo maior ainda de o esquecer. Mas o professor, mesmo que sem tato para lidar com emoções alheias e se mostrando mais racional no começo, vai o ajudar a entender que a memória de Darcy vai estar sempre com ele e com a irmã. Por consequência disso, Bridget vai se desprender do medo e perceber que ela e os filhos podem ser felizes, apesar da grande perda que tiveram.

E enquanto Billy é quase que o mini Darcy em questão de personalidade, a Mabel, filha mais nova, é esquisita, desastrada e adorável, tal qual a mãe. Toda a trajetória do filme não dispensa o fato de Bridget ser mãe de dois filhos. Mas o longa embarca na jornada dessa mulher e viúva, se encontrando, voltando ao trabalho, sendo ela mesma, se apaixonando e fazendo as pessoas ao seu redor se apaixonarem também.
 
                                                           Crédito de imagens: © 2025 Universal Studios. All Rights Reserved.
O filme estreou ontem na França, Islândia, Filipinas e Tailândia, mas chega ao Brasil no mesmo dia que o Reino Unido, Argentina, Colômbia, Dinamarca e diversos outros países

Michael Morris tem no perfil direção de séries como ''Better Caul Saul, Shamelless e Preacher''. Aqui pula o barco dos gêneros que já trabalhou e consegue manter bem o ritmo trazendo boas referências aos trabalhos dos diretores anteriores. O roteiro do filme é engraçado, sagaz e também trata de temas delicados como o luto, de uma forma acolhedora e delicada, e foi assinado pela autora dos livros Helen Fielding, em conjunto com Dan Mazer e Abi Morgan. Os produtores de todos os anteriores, Tim Bevan e Eric Fellner, retornaram para o longa, desta vez ao lado de Jo Wallett, que produziu o filme 'Catarina, a Menina Chamada Passarinha'. 
 
No final, é bom ver uma franquia sobre uma mulher apaixonada e apaixonante, no meio de incontáveis franquias de homens invencíveis com sagas que passam de dez filmes. Precisamos crescer e envelhecer com a Bridget Jones! A premiére mundial deste longa, que aconteceu no dia 30 de janeiro, inclusive, teve presença das atrizes brasileiras Ingrid Guimarães e Mônica Martelli, que representam as mulheres românticas das franquias nacionais que tanto amamos e que a Bridget iria adorar conhecer.  
 
HOJE NOS CINEMAS
 
Post atualizado em 17.02.2025, às 00:05

Sing, Sing, de Greg Kwedar

 
Quando se trata de filmes que tem como palco as penitenciárias como se ilustra em "Um Sonho de Liberdade" (Frank Darabont 1995), "Carandiru" (Hector Babenco, 2003), "À Espera de Um Milagre" (Frank Darabont, 2000) ou "Fuga de Alcatraz" (Don Siegel, 1979), é comum e até esperado que as tramas abordem aspectos como violência carcerária, fugas, maus tratos, brigas entre os detentos, suicídios, rebeliões, abuso de drogas e condições precárias de saúde, alimentação e alojamento. Mas este não é o caso de Sing Sing.

A história deste exemplar “diferentão”, concebida dentro de um subgênero, se passa na prisão de segurança máxima de Nova York, na qual os prisioneiros têm celas individuais e personalizadas, andam para lá e para cá dentro do prédio com certa “liberdade”, têm acesso a muitos livros e a facilidades como máquinas de escrever, desfrutam de momentos de lazer ao ar livre sem tanta supervisão e, mais importante de tudo, têm a possibilidade de fazer parte de um grupo de teatro. Por mais que em alguns momentos os personagens se refiram a brigas, ameaças e punições como elementos que fazem parte de seu passado nesse mesmo presídio, tudo isso é alheio à câmera.

O cinematografista Pat Scola (Um Lugar Silencioso: Dia Um, 2024) se junta ao diretor Greg Kwedar (Do Outro Lado da Fronteira, 2016) em uma fotografia clara e iluminada que faz as acomodações da prisão parecerem ainda mais limpas. O clima estabelecido pelo roteiro nunca é de suspense. Quando a tensão aparece, é uma tensão de emoções à flor da pele, não de perigo iminente.

O já mencionado grupo de teatro é o fio condutor da narrativa deste filme baseado em fatos reais e indicado a três Oscars (incluindo a categoria de melhor roteiro adaptado). Trata-se, na verdade, de um programa de recuperação que trabalha a reabilitação dos detentos através de aulas de teatro e montagem semestral. Divine G (o estupendo Colman Domingo) é o protagonista e criador do programa. Acontece que ele não é o professor das aulas, o diretor do presídio ou algum funcionário público. Ele é, também, um dos presos.
 
     Credito de Imagens: Black Bear, Edith Productions e Marfa Peach Company | A24, Diadmond Films Brasil, Divulgação
"Sing Sing" recebeu indicações Oscar 2025 nas categorias de "Melhor Cancão" para a música "Like a Bird", "Melhor Ator" para Colman Domingo e "Melhor Roteiro"

Advogado, dramaturgo e condenado por um homicídio que não cometeu, Divine G usa o grupo como uma forma de sobreviver no lugar. Não contra os perigos físicos, mas contra os psicológicos e emocionais. Apesar da figura de Brent (Paul Raci), o professor excêntrico e liberal que lidera as aulas dando bastante espaço para que seus alunos tomem as decisões criativas, é Divine G quem é o líder espiritual do grupo. É ele que engrossa a voz e interrompe uma eventual discussão, quem convence os colegas a se entregar de corpo e alma ao processo de atuação, quem dá lição de moral e quem tem a sensibilidade de desvendar o que uma frustração ou desempenho ruim revela do que precisa ser trabalhado na vida pessoal de cada um.

O filme começa no ponto em que o grupo abre novas vagas para a nova montagem teatral. E é aí que entra em cena Divine Eye (Clarence Maclin). Líder do tráfico do lado de fora dos muros, ele não procura a arte performática como forma de largar o crime ou a violência, nem demonstra especial respeito ou admiração por Divine G. Nas primeiras aulas, acredita que os exercícios cênicos são bobos e não se permite experimentar. Nem as conversas inspiradoras e cheias de metáforas do dramaturgo dão jeito. Está aí seu maior desafio do semestre.

A partir deste ponto, o filme adota uma estrutura clássica, explorando o tropo do professor que se torna aluno e vice versa. Bem aos poucos, Divine G vai adotando as táticas de Divine Eye para conquistar seu respeito, os dois se tornam amigos até que a mesa vira e, devido a uma série de problemas inesperados, é o ator veterano quem passa a duvidar da eficácia do grupo, desrespeita o processo e os colegas e precisa ser emocionalmente resgatado por quem inicialmente ele ajudou.

A atuação de Domingo é, de longe, o fator mais potente do longa. O ator consegue emocionar e convencer, muitas vezes, com um olhar ou sorriso. O fato da história ser real também aumenta o impacto do filme. Nos créditos finais, a tela é preenchida por filmagens que revelam que a grande maioria dos atores estão interpretando a si mesmos e realmente integraram o grupo de teatro de Sing Sing, inclusive Clarence “Divine Eye” Maclin. Registros reais das peças encenadas no presídio também têm trechos exibidos. Nesse momento, a reação de surpresa e emoção na platéia pode acontecer.

Sing Sing é um filme pujante, carismático e com uma mensagem muito importante. Mas perde fôlego em seu terço final pela forma como é estruturado e tem uma direção com pouca personalidade. No fim das contas, poderia ser mais ousado, mais autoral, mais surpreendente e menos piegas. Mas se prende a uma fórmula narrativa que nos lembra a cinematografia do início dos anos 2000.
 
Trailer
 

 
Ficha Técnica
 
  • Titulo Original e Ano: Sing Sing, 2023. Direção: Greg Kwedar. Roteiro: Clint Bentley  e Greg Kwedar - com argumentos de John Divine G Whitfield, Clarence Maclin, Greg Kwedar, Clint Bentley e baseado no trabalho de John H. Richardson em ''The Sing Sing Follies" e Brent Buell  em "Breakin' The Mummy's Code". Elenco: Colman Domingo, Clarence Maclin, Sean San Jose, Paul Raci, David Giraudy, Patrick Griffin, Mosi Eagle, James Williams, Sean Dino Johnson. Gênero: Drama.  Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Bryce Dessner. Fotografia: Pat Scola. Edição: Parker Laramie. Design de Produção: Ruta Kiskyte. Direção de Arte: Jacob Harbeck. Figurino: Desira Pesta. Empresas ProdutorasBlack Bear, Edith Productions e Marfa Peach Company. Distribuição: Diamond Films Brasil. Duração: 01h47min.
 
HOJE NOS CINEMAS

Capitão América: Admirável Mundo Novo


Captain America: Brave New World, título original do mais recente filme do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), dirigido por Julius Onah (The Cloverfield Paradox, 2018), chega em um verdadeiro novo mundo, tanto para o UCM, quanto para a Marvel.

A Marvel vem de altos e baixos, Deadpool & Wolverine (Shawn Levy, 2024) foi um enorme sucesso, muito por conta da mercantilização da nostalgia que o filme se propunha, mas o novo filme do Capitão América, que ganha o subtítulo de: Admirável Mundo Novo'', não tem isso ao seu favor. Pelo menos não num primeiro momento.

Sam Wilson (Anthony Mackie) é agora o Capitão América, depois de ter recebido o escudo de Steve Rogers (Chris Evans), ele lutou pelo manto na série ''Falcão e o Soldado Invernal'', dirigida por Kari Skogland (2021) e se firmou como o herói que usa as cores da bandeira dos Estados Unidos da América. Junto de Joaquin Torres (Danny Ramires), o novo Falcão, Sam participa de missões e responde, em certo nível, ao Presidente dos EUA, Thaddeus ‘Thunderbolt’ Ross (Harrisson Ford).

O filme se inicia com uma montagem claramente inspirada em thrillers de espionagem, há um cuidado com a tensão, o Presidente Ross faz seu discurso após a eleição, ele prega a união, do povo e dos povos ao redor do globo. Há uma agitação do personagem, um nervosismo enquanto ele toma alguns comprimidos que serão explicados mais tarde. Ver a construção desse panorama para trabalhar o recorte do UCM mais centrado, mais puxado para a trama política, é sempre divertido.

Sam, Joaquin e Isaiah Bradley (Carl Lumbly), um super soldado que foi usado pelo governo estadunidense como cobaia, são convidados para uma festa na Casa Branca, depois de uma missão acabar bem, mas sem uma resolução completa. Nessa festa, o Presidente Ross tem uma conversa particular com Sam e pede que ele reconstrua Os Vingadores. Sam se vê surpreso e se mostra reticente com o pedido, se perguntando o que significam ver o grupo de heróis reunido nesse novo mundo.

Trailer



Ficha Técnica

Título Original e Ano: Capitain America: Brave New World, 2025. Direção: Julius Onah. Roteiro: Julius Onah, Peter Glanz, Dalan Musson, Rob Edwards, Malcom Spellman, com argumentos de Malcolm Spellman e Rob Edwards e Dalan Musson baseado no personagem criado por Jack Kirby e Joe Simon Elenco: Anthony Mackie, Harrison Ford, Danny Ramirez, Shira Haas, Carl Lumbly, Giancarlo Esposito, Tim Blake Nelson, Xosha Roquemore, Jóhannes Haukur Jóhannesson, Takehiro Hira, Harsh Nayyar, Rick Espaillat, Liv Tyler, Sebastian Stan. Gênero: Ação, Thriller. Nacionalidade: EUA . Trilha Sonora Original: Laura Karpman. Fotografia: Kramer Morgenthau. Edição: Madeleine Gavin e Matthew Schmidt. Direção de Arte: Alan Hook. Figurino: Gersha Phillips. Design de Produção: Ramsey Avery. Empresas Produtoras: Marvel Studios. Distribuição: Walt Disney Studios. Duração: 02h07min.


Ross pede que ele reflita e parte para o evento, onde anuncia as tratativas de um acordo a nível internacional para exploração do Celestial, que surgiu no Oceano Índico, para quem não acompanhou, o acontecimento se dá durante a jornada de Os Eternos (Chloé Zhao, 2021), e estava esquecido na sala de roteiro até agora. Enquanto explicava o acordo e como a liga metálica adamantium foi descoberta no corpo do Celestial, o Presidente Ross é atacado por Isaiah e outras pessoas presentes.

Isaiah foge, mas é capturado, mas parece não se lembrar do que acabou de fazer. A partir daí, Sam inicia uma investigação sobre o porquê do mentor ter agido daquela forma, enquanto a Chefe de Segurança da Casa Branca, Ruth Bat-Seraph (Shira Haas), inicia outra. Há uma luta por narrativa, o Presidente Ross parece saber a verdade, mas busca se manter alheio a isso para que não respingue nele.

A situação escalona com um conflito plantado pelo vilão, Samuel Sterns (Tim Blake Nelson), o acordo parece não ser uma possibilidade e uma Guerra se avizinha. O vilão trabalha com estatísticas e parece prever cada movimento de Sam e do Presidente Ross. Para um arqui-inimigo que parece ter tudo calculado, Sam precisa lutar contra as probabilidades antes que o mundo entre em guerra.

                                                 Crédito de Imagens: © 2024 MARVEL.
O MCU se encontra aqui quando traz à tona personagens conhecidos em ''O Incrível Hulk'' (Louis Leterrier, 2008)


A relação entre Sam e Joaquin é bem construída, há um movimento da Marvel em direção a renovar seus heróis, talvez apresentar algo como ''Jovens Vingadores'', mas isso é conjectura pessoal apenas. Mackie é um bom ator e seu carisma segura muitos momentos que poderiam ser ruims pelo texto super expositivo. É bom tê-lo em cena, mas o roteiro parece retornar muito o que já foi trabalhado na série. Ainda que não haja obrigação do público em assistir uma série para ver um filme, isso pode ser um incômodo, rever algo que já parecia superado ter que ser superado novamente. Harrison Ford não é conhecido por grandes atuações, mas grandes personagens, mas seu Presidente Ross é um pouco diferente - e esta é a segunda vez que ele interpreta um presidente, pois é personagem central em ''Força Aérea Um'' (Wolfgang Petersen, 1997). O veterano, que substituiu o falecido William Hurt, vai muito bem nos momentos de explosão e demonstra consternação de forma crível, parece pesar sobre ele o seu passado, o afastamento de sua filha, sua solidão.

Há um comentário sobre a forma com que a pessoa negra tem que se esforçar muito mais para atingir o mesmo nível de uma pessoa branca. Como Sam deve ser perfeito, apenas para merecer uma comparação ao Steve. Evidentemente um filme do MCU não vai aprofundar essas questões, mas é muito importante uma produção de tamanha visibilidade trazer ao menos um vislumbre dela.

O final do filme não contenta seu tamanho, a forma com que a resolução é feita deixa a desejar, com efeitos especiais defasados, texto totalmente fora do tom, é a parte mais precária aqui. Vale dizer que a cena pós-créditos também não é tão impactante. Como o resto do longa-metragem, ela parece andar em círculos.

O ''heroflick'' tem boas cenas de ação, mas parece ter medo de sair do convencional, não consegue superar as amarras impostas pelo seu passado. A direção de Onah não consegue sair de algo procedimental, sem ousadias, mas sem erros grosseiros também, é tudo muito seguro. Em determinado momento, o diretor parece querer filmar uma luta sem cortes, dando mais movimento à cena, mas, ou não possui a habilidade necessária para tal, ou optou apenas pelo jeito mais simples. Acaba sendo um filme com bons momentos, com lutas bem coreografadas, um texto expositivo e que retorna em muitos pontos já trabalhados, mas o conjunto da obra é bom.

Avaliação: Três escudos de proteção (3/5).

HOJE NOS CINEMAS