''Nós enxergamos o mundo, mas nós, de certa forma, não enxergamos o mundo''
Se na tevê a série britânica "Doctor Who" (Donald Wilson e Sidney Newman, 1963) trouxe à tona e abordou a temática dos robôs como se tornando possíveis inimigos, na Hollywood oitentista, James Cameron apresentou ciborgues amigos e também extremamente letais (O Exterminador do Futuro,1984), já John Hughes com seu tom cômico e teen fez de dois jovens programadores, os criadores de ''uma mulher perfeita'' (Mulher Nota 1000,1985). Com o passar dos anos o cinema cresceu e se diversificou construindo um grande espaço para se pensar a inteligência artificial, aliás, até provocando a ideia de que esta é cada vez mais similar ao ser humano, ou muitas vezes até mais empática que este último. Nos anos 2000, se atinge um outro patamar quando grandes cineastas como Steven Spielberg (A.I: Inteligência Artificial, 2012) e Spike Jonze (Ela, 2013), também lançam histórias com a inclusão de personagens que fazem o público repensar sua humanidade em distopias apocalípticas e divisoras de águas. A narrativa que Jonze introduz, por sua vez, ainda que surja a partir de um acontecimento pessoal, assume uma postura ultra moderna entregando um drama potente sobre a conexão emocional de um homem solitário, que está se curando de um divórcio, a uma assistente virtual, como a criada pela empresa Apple, mais conhecida como Siri.
A partir da premissa de como esse futuro-presente tem usufruído de sua conexão com as IA's, Drew Hancock, ator, roteirista e diretor, que possui trabalhos em séries e também conduzindo vídeos inusitados (Tenacious D Time Fixers,2006), decide presentear o inicio de ano do mundo cinéfilo com um super thriller em uma história redondinha permeada por ambição, traições e violência, mas também salpicada com uma bela porção de empoderamento feminino. Em ''Acompanhante Perfeita'', o espectador conhece a bela Iris (Sophie Thatcher) e o inicio de seu relacionamento com Josh (Jack Quaid), enquanto esta narra um pedaço de sua vida enunciando que nada daquilo que se vê é o que realmente parece ser. Os dois vão passar alguns dias numa casa do lago que pertence ao milionário russo Sergey (Rupert Friend quase irreconhecível) junto ao casal Eli (Harvey Guillén) e Patrick (Lukas Gage) e a amante do ricaço, Kat (Megan Suri). Iris não se sente bem quista por alguns dos amigos do namorado e é quando é atacada por Sergey e o mata, por entender que ele fará algo com ela que não deseja, que seu mundo cai e as máscaras daqueles que estão presentes também. Assim, aos poucos o espectador tem conhecimento que alguns dos personagens em tela são, na verdade, Inteligências Artificiais que os humanos podem adquirir para ter relações de algum tipo, como, por exemplo, amorosas e sexuais, e fazer destes os seus capachos.
O filme desponta para um thriller de perseguição maravilhoso que não se perde em nenhum momento, e que, apesar de revelar partes importantes, logo em seu inicio (ou até mesmo no trailer), surpreende e tem tudo para dar a audiência uma das melhores experiências cinemáticas do mês de fevereiro. O longa conta com distribuição da Warner Bros Pictures.
Trailer
Ficha Técnica
Título Original e Ano: Companion, 2025. Direção e Roteiro: Drew Hancock. Elenco: Sophie Thatcher, Jack Quaid, Lukas Gage, Megan Suri, Harvey Guillén, Rupert Friend, Jaboukie Young-White, Matt McCarthy, Marc Menchaca, Woody Fu, Ashley Lambert. Gênero: Thriller. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: Hrishikesh Hirway. Fotografia: Eli Born. Edição: Brett W. Bachman e Josh Ethier. Design de Produção: Scott Kuzio. Direção de Arte: John Duhigg Cox e Naomi Munro. Figurino: Vanessa Porter. Empresas Produtoras: BoulderLight Pictures, New Line Cinema, Vertigo Entertainment. Distribuidora: Warner Bros Pictures Brasil. Duração: 01h37min.
Iris, que ao contrário pode se ler ''Siri'', é uma jovem simples, com um figurino vintage e que tem levado a vida junto de um namorado que aparenta ser um sonho, mas não necessariamente o é. Isto se deve ao fato de que as falas do rapaz, além das atitudes, vão se demonstrando prejudiciais a saúde emocional da garota, mas esta não exatamente tem como escolher estar ali, ela apenas está. Ele também não parece ligar muito para o que esta ''sente'' e age como todo homem branco padrão, levando em conta somente o seu bel-prazer. Iris até certo ponto demonstra que está sob o total controle de Josh e faz de um tudo por ele. Suas ''configurações'' estão programadas para que ela seja essa namorada objeto. O papel de Patrick na trama, como namorado de Eli, também se assemelha ao de Iris, ao passo que, talvez, seu ''dono'' tenha mesmo mais afeto do que necessariamente Josh venha a ter por sua ''bonequinha de luxo''. Kat, talvez, seja a única entre todos do grupo que não se sujeita a ser ''boazinha e cool'', já que exibe suas falhas éticas e poucos princípios morais em alguns minutos de conversa.
Crédito de Imagens: © 2025 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.
A produção contou com estreia no Fantasy FilmFest, na Alemanha, no inicio de janeiro, já está em cartaz em quase todo o mundo, mas deve chegar aos cinemas russos somente em junho.
A ideia de um amor abusivo entre um humano e uma IA aqui se concretiza como uma ótima alegoria a relações reais que já vimos por ai, ou que, tragicamente, vivenciamos. O 'comportamental' de cada um em tela é testado e exibe suas fraquezas sempre e quando podem. Seres humanos ambiciosos, que presumem o caráter alheio, sem realmente conhecer o outro, ou que só visam mesmo o seu bem estar, independentemente do que isto possa vir causar ao outro são a ferramenta real aqui. Com uma condução acertada, os personagens são muito bem construídos por seus intérpretes e o roteiro os dá diálogos que não só entretêm, como trazem reflexão. A edição é tão caprichada que o tempo de tela, uma hora e trinta e tantos minutos, voa, e não há como não sair da sessão sem um belo sorriso no rosto pelo trabalho de qualidade de toda a equipe do filme.
Crédito de Imagens: © 2025 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.
''Companion'', título original do filme, chegou a arrecadar quase 12 milhões de doláres nos cinemas norte-americanos e canadenses. Seu custo de produção foi fechado em dois milhões a menos deste valor.
O filme apresenta diversidade em seu casting e em seus personagens dando a trama estilo e qualidade sem soar como algo ruim. Vilões e mocinhos tem ''feições'' inusitadas, diria. E o lema '' nada é o que parece'' ganha uma nova perspectiva aqui. O texto ainda traz temáticas feministas em camadas profundas e faz um estudo comportamental de homens e mulheres que indaga aqueles que fariam tudo por bolsas e bolsas de dinheiro, apenas por acharem alguém suspeitamente mafioso, esquecendo que nem sempre ''o inferno são os outros''.
Destaque em performance para Sophie Thatcher. A atriz esteve em grandes filmes no ano passado como ''Herege'' (Scott Beck e Bryan Woods, 2024), MaXXXine (Ti West, 2024) e a serie de sucesso ''Yellowjackets'' (Ashley Lyle e Bart Nickerson, 2024). Lukas Gage (Sorria 2) e o astro em ascensão, e filho da atriz Meg Ryan com Dennis Quaid, Josh Quaid (da série de tevê ''The Boys''), também estão fenomenais em seus papéis.
HOJE NOS CINEMAS
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