Em tempos que bilionários preferem trabalhar pela colonização de planetas que, talvez, tenham a chance de ser habilitados por seres humanos um dia, ao invés de achar soluções viáveis para resolver os dilemas terrenos, e os quais muitos foram causados por suas próprias empresas, adentramos a jornada de vida ficcional do pobre coitado Mickey (Robert Pattinson) em "Mickey 17, novo longa do diretor sul-coreano Bong Joon Ho (Parasita,2019).
Na trama, o homem, tenta ter seu negócio com o "amigo" Timo (Steve Yeun), e fica nas mãos de perigosos agiotas. Para não perder a vida da forma mais grotesca possível, já que o projeto fracassa e eles não conseguem dinheiro para pagar o empréstimo realizado, ele se inscreve em uma missão inter-espacial para acompanhar a primeira tripulação que está indo colonizar um planeta ainda inseguro para se habitar. Inocente e sem capacidade o suficiente de interpretação, Mickey faz o inusitado e não só se habilita para ir ao espaço, mas se faz como alguém que cumprirá o papel de pessoa "descartável". A categoria colocará o rapaz em maus lençóis já que ele será cobaia para todas as prováveis necessidades dos cientistas a bordo da aeronave, inclusive, testes mortais. Todavia, seu DNA é replicado e sempre que algo der errado, ele será "impresso novamente" para realizar novas tarefas e conseguir dar a tripulação vacinas e a imunidade necessária para viver no lugar, pois suas memórias e transformações ficarão gravadas com o auxilio de uma tecnologia distinta. Enquanto tudo isto acontece, Mickey arranja tempo para encontrar uma namorada, a soldado Nasha (Naomi Ackie), e perceber que o ex-colega trapaceiro também está por ali. Belo dia, durante uma missão externa, Mickey, em sua 17° versão, consegue sobreviver ao cair em um mega buraco e se deparar com criaturas horripilantes (mas nada é o que parece). Ao retornar para spaceship percebe que Mickey 18 foi impresso e mais sórdido e inteligente. Este último não querendo deixar de existir, ainda que o seu antecessor também não, propõe uma parceria. Logo, os dois vão tentar de um tudo para que não sejam descobertos, pois a ''anomalia'' significaria o fim do DNA do rapaz de vez.
A narrativa é adaptada do livro de Edward Ashton "Mickey 7", publicado lá fora em 2022, e que chegou ao Brasil em outubro de 2023 pela Editora Planeta Minotauro. Na obra, Ashton faz um uso menor da quantidade de vezes em que o personagem central precisa morrer para satisfazer as necessidades da tripulação, já Joon Ho escolhe trabalhar mais essa possibilidade para realmente deixar o espectador estupefato por ver como um ser humano pode tratar o outro e impor que alguém se sacrifique de formas horrendas em nome de uma causa maior. O lançamento é da Warner Bros Pictures e o elenco ainda traz Mark Ruffalo, vivendo o líder Kenneth Marshall, uma espécie de Donald Trump com trejeitos de inúmeros presidentes ou líderes autoritários atuais misturado a facetas de Elon Musk, Jeff Bezos e outros multibilionários sem qualquer essência. A sempre maravilhosa Toni Collette interpreta a esposa de Marshall, Ylfa.
Crédito de Imagens: © 2025 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.
A produção é o primeiro filme pós a fenomenal jornada de ''Parasita'' nas premiações em 2020. O longa rendeu a equipe do diretor mais de duzentos prêmios na award season daquele ano.
Mickey 17 nos apresenta um estudo magnifico do comportamento humano em situações incomuns, além de perturbante. Se tem um quadro gigante de diferentes personalidades em tela, da mais desagradável e vil a mais doce e inocente possível. O protagonista se põe disponível para os maiores distratos que alguém poderia passar, e que talvez muitos animais de laboratórios já experienciam no seu dia-a-dia. Dito isto, a sociedade dentro da nave é permeada daqueles que querem sobreviver e os que não ligam para o que acontece à Mickey. O grupo tem em sua presença uma liderança nefasta (Marshall) e que manifesta todas as características imagináveis do capitalismo em sua essência e dominância. O humanismo, por sua vez, vem em forma de uma mulher preta (Nasha) e que usa de sua fortaleza interna para se compadecer com o homem franzino e pouco provido de sagacidade que Mickey o é. Bong Joon Ho descreve que a única diferença para o Mickey do livro é que o do filme possui um alto nível de libido, enquanto o personagem literário não demonstra tal alteração.
O longa tem um tom cômico impressionante, além de emplacar romance, drama, aventura em um só filme e maravilhar o espectador pela condução certeira do diretor. É fascinante assistir a estranheza que Bong Joon Ho investe na narrativa ao mesmo tempo que sua marca nos faz rememorar filmes que ele dirigiu como ''O Hospedeiro'' (2006), ''Expresso do Amanhã'' (2013) e até mesmo ''Parasita'' já que em ambos os filmes, o artista é pontual ao retratar problemas entre classes sociais e outras mazelas da estranhice humana.
O próximo trabalho de Bong Joon Ho será uma animação, ainda sem muitos detalhes, pois está em desenvolvimento.
Crédito de Imagens: © 2025 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.
A trama, assim como acontece em ''A Chegada'' (2016), de Denis Villeneuve, coloca o ser humano para se conectar com ''Aliens'' de um jeito inesperado. A única diferença é que desta vez, os humanos é que estão em terra alheia e invadindo o espaço e matando quem não se deve, seja por medo ou para ter poder sobre o desconhecido. A chave da resolução deste encontro será o próprio protagonista e, ainda que o filme entregue uma resolução aprazível, a construção desta é que satisfaz mais ainda.
Robert Pattinson nos entrega uma atuação camaleônica visto que tem que ir diferenciando seus ''Mickey's". O 17 e o 18 são os mais extremos. Do rapaz franzido, super sexual, ingênuo e de voz irritante e frágil para um homem sagaz, esperto, e sem escrúpulos para o que vier. Excelente performance do ator. Toni Collette e Mark Ruffalo vivem o puro suco da gentalhada milionária que ostenta a idéia nazista de supremacia. Toni já tem outros personagens mais vilanescos, porém Ruffalo tem experimentado outros lados do mundo teatral e têm surpreendido bastante. Aqui consegue nos fazer pensar na pequenez de lideres como o atual presidente norte-americano. Naomi Ackie (Pisque Duas Vezes, 2024) mais uma vez entregando um super papel e muita adequação ao personagem. A atriz já está cotada para mais quatro produções cinematográficas, aliás. Para quem assistiu o filme britânico ''This Is England'' (Shane Meadows, 2006), que aborda a questão de jovens nazistas na Inglaterra, vai ser fácil reconhecer o jovem ator Thomas Turgoose. Aqui ele interpreta um dos soldados de Marshall. Steve Yeun trabalha com Bong Joon Ho pela segunda vez, a primeira foi em Okja (2017). Sua atuação de pilantra também é super convincente.
Trailer
Ficha Técnica
- Título Original e Ano: Mickey 17, 2025. Direção: Bong Joon-Ho. Roteiro: Bong Joon-Ho — adaptação do livro de Edward Ashton ‘Mickey 7’. Elenco: Robert Pattinson, Mark Ruffalo, Steve Yeun, Naomie Ackie, Toni Collette, Thomas Turgoose, Steve Park, Patsy Ferran, Daniel Henshall, Anamaria Vartolomei, Cameron Britton, Holliday Grainger. Gênero: Scifi, comédia, fantasia. Nacionalidade: Coréia do Sul e Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: Jung Jae-il. Fotografia: Darius Khondji. Edição: Jinmo Yang. Direção de Arte: Jason Knox-Johnston. Design de Produção: Fiona Crombie. Figurino: Catherine George. Empresas Produtoras: Warner Bros., Plan B Entertainment, Offscreen, Kate Street Picture Company. Distribuidora: Warner Bros Pictures. Duração: 2h19min.
Edição, fotografia e trilha sonora fazem o conjunto da obra aterrizar nos cinemas como um das melhores estreias da semana. O filme nasce, inclusive, de um roteiro bem escrito e bem adaptado.
Avaliação: Quatro aparelhos que traduzem aliens e fazem a alegria dos mais sensíveis (4/5).
HOJE NOS CINEMAS
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