Parthenope - Os Amores de Nápoles, de Paolo Sorrentino

 
O diretor Paolo Sorrentino apresentou ''Parthenope - Os Amores de Nápoles'' na edição de 2024 do Festival de Cannes. No evento, o fotógrafo da película chegou a ser premiado por sua técnica com o ''CST Artist''. Sorrentino também foi indicado a Palma de Ouro, por conta de sua condução, mas acabou não levando. A majestosa obra de quase duas horas e 17 minutos guia o espectador pela  entranhas históricas de Nápoles, cidade que fica ao sul da Itália. O título do filme nos remete ao personagem grego de mesmo nome e que era uma sereia encantadora. Esta ao tentar seduzir Ulisses com seu grupo de beldades marítimas, não se sai bem e todas então se deixam afogar. O corpo de Parthenope chegou a ser levado pelo mar às margens do que hoje é conhecido como ''O Castelo do Ovo'', as costas de Nápoles, e por algum tempo foi homenageada pelo povo do lugar como uma das fundadoras. O nome de pronúncia forte significa ''menina virgem''. 
 
No filme de Sorrentino, uma família napolitana, formada por um garoto por volta de 9 a 10 anos chamado Raimondo (Antonino Annina), seu pai e sua mãe, estão vivendo em uma bela casa beira mar e passando os dias quentes e ensolados a esperar pela chegada do segundo filho. Comandante (Alfonso Santagata), um amigo do casal, diz que será uma menina e belo dia, durante um parto em plena água praiana, a criança vem ao mundo. Acertando o palpite, o velho acaba indicando aos pais que ela deve se chamar Parthenope e aponta para a visão da terra junto ao mar. A garota (Celeste Dalla Porta) cresce e se torna uma visão para os olhos e atrai a todos que tem o prazer de a conhecer. Seu pai, seu irmão mais velho (Daniele Rienzo) são todos apaixonados por seus olhos, cabelos e corpo. O carinho e o encanto é tanto que chega a aparentar um incesto entre os irmãos, além de cenas do pai cheirando o biquíni da filha. Sandrino (Dario Aita), um amigo de Raimondo e Parthenope também é super apaixonado pela moça e vive a cercando para conseguir se casar com ela. Certo dia, o irmão de ''Parthe'', apelido que a menina ganha dos entes queridos, a convida para irem passar alguns dias viajando. No lugar, ela novamente sai encantando a todos e todas. Até mesmo o velho escritor John Cheever (Gary Oldman) que sequer diz ser heterossexual. Homens ricos descem de seus helicopteros, jovens em festas vem falar com ela, mas Parthenope, que é estudante de Antropologia, quer ver e viver tudo e não faz conexões fortes. Todavia, ao ficar de caricias com Sandrino, o irmão, que já não parecia muito bem há algum tempo se suicida se jogando do alto de um edifício antigo. O ocorrido provoca um trauma grande à moça e a toda a família que a culpa pelo ocorrido e esta ao seu amor de juventude, Sandrino. 

As correntes intelectuais levam Parthenope para orientação de um acadêmico que se encanta com a sagacidade da jovem e sua ''rapidez'' para todas as perguntas. Devoto Marotta (Silvio Orlando) a instiga e ela o pergunta em diversos momentos ''Professor, o que é antropologia?''. A longa jornada de Parthenope se inicia com seu nascimento nos anos 60 e o filme nos faz chegar até a sua velhice no ano de 2023, ainda belíssima, mas uma mulher que quebrou padrões e não foi mãe ou se casou. Celeste Della Porta ganha seu primeiro grande papel e é introduzida a indústria pelas mãos de Sorrentino de uma maneira intrigante. O longa, infelizmente, não tem a força que A Mão de Deus (2021), Juventude (2015) e A Grande Beleza (2013), outros trabalhos do diretor, tiveram em Festivais, mas é simbólico e repleto de nuances para um cinema italiano vivo e de cores quentes. 

Além de Cannes, o filme passou pelo Festival do Rio ano passado e só agora ganha sua estréia comercial

O diretor explora o mito de Parthenope de diversas formas. Há a beleza da mulher protagonista sendo encantadora e levando todos e todas a loucura. Há crítica social a partir de um olhar artístico sobre a cidade de Nápoles, que até tem suas atrizes famosas causando impacto em um retorno cheio de críticas ao lugar e há também toda a mística das relações. Os homens que se negam a ver a beleza da menina e aqueles que querem por um tudo estar perto dela. Por outro lado, tem-se o desejo de conhecer a sociedade e de se experimentar a vida advindo da própria Parthenope. Sexualidade, religião e mitologia são abordados aqui de forma muito imersiva.

A personagem parte de ''um male gaze'' - escrita e descrita por um homem e perpetuada como objeto sexual-, se conecta pouco com mulheres, apesar de se não se proibir sexualmente e até beijar sua professora de teatro que sofre por uma beleza perdida, mas consegue ser intelectualmente provocada por um professor que a vê nele e que a partir disso ganha uma nova jornada. Diz não a maternidade e ao casamento e constrói seu mundo profissional na academia como antropóloga. Vive o bastante para perceber e entender o campo que adentra e não se deixa levar por sugestões de que ela seria mais bem aproveitada como atriz e modelo. Acaba desconstruindo a si própria.
 
Trailer
 

Ficha Técnica
 
  • Título Original e Ano: Parthenope, 2024. Direção e Roteiro: Paolo Sorrentino. Elenco: Celeste Dalla Porta, Stefania Sandrelli, Alfonso Santagata, Daniele Rienzo, Luisa Ranieri, Silvio Orlando, Alessandro Paniccia, Gary Oldman, Isabella Ferrari, Riccardo Coppola, Dario Aita, Antonino Annina. Gênero: Drama, Fantasia, Coming of Age. Nacionalidade: Itália e França. Trilha Sonora Original: Lele Marchitelli. Fotografia:  Daria D'Antonio. Edição: Cristiano Travaglioli.  Design de Produção: Carmine Guarino. Direção de Arte: Fabio Ferrara. Figurino: Carlo Poggioli  e Anthony Vaccarello. Empresas Produtoras: The Apartment, Pathé, Numero 10, Saint Laurent, PiperFilm, Logical Content Ventures. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 02:17min.

A trilha sonora de Lele Marchitelli e a fotografia premiada de Daria D'Antonio são essenciais para o filme e fazem dele um conjunto. Canções como ''A Gira'', do Trio Ternura'', ''Memoria'', de LaTorre'' e ''My Way'', de Frank Sinatra são algumas das que se ouve durante as cenas. Gary Oldman faz uma pequena participação e à convite de Sorrentino que ficou sabendo da admiração do ator pela obra do diretor italiano.

O filme é dedicado ao figurinista Luca Canfora, parceiro de trabalhos de Sorrentino de longa data. Luca foi encontrado morto dias após as filmagens do longa acabar e não se sabe a causa da morte até então, por aparentar afogamento ou suicídio.

Avaliação: Dois mares cheios de mistérios e meio (2,5/5)

 27 DE MARÇO NOS CINEMAS

Escrito por Bárbara Kruczyński

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