Sem Chão, de Yuval Abraham, Basel Adra, Hamdan Ballal e Rachel Szor

 
Vanessa Redgrave, em seu discurso de aceitação do Oscar 1978 de ''Melhor Atriz Coadjuvante'' pelo filme Julia, de Fred Zinnemann, fez um discurso pró Palestina e, por causa disso, recebeu a rejeição de toda Hollywood por ser erroneamente considerada antissemita. Em 2025, o documentário ''Sem Chão'' que defende a causa palestina recebeu o Oscar de ''Melhor Documentário'' e foi plenamente aclamado por sua temática. O que mudou em Hollywood é um espelho do que está sendo repensado em todo o mundo. Dar aos palestinos o direito à terra e à vida não é ser antissemita, é ser contra a política genocida de Israel de destruir um povo.

 

Dirigido a seis mãos por Yuval Abraham, Basel Adra, Hamdan Balllal e Rache Szor, um coletivo palestino-israelense, o documentário apresenta a destruição sistemática dos direitos humanos básicos da vila palestina de Masafer Yatta, na Cisjordânia. Com a desculpa de precisar de um campo de treino para tanques de guerra, uma larga faixa de terra ocupada por povoados palestinos foi desapropriada pelo governo israelense. A resistência dos moradores levou a um conflito insano de anos de violência e arbitrariedades, com o poderio do exército israelense destruindo vidas e almas.

 

Mas documentado pelas câmaras, os crimes desta vez são revelados aos olhos do mundo. É eternizado em imagens o efeito devastador de como um genocídio é perpetrado em pleno século XXI, de como a uma população civil indefesa é negado o direito à terra e do como uma resistência civil pacífica pode levar a prisões e assassinatos.

 

Crédito de Imagens: Yabayay Media e Antipode Films - Distribuição: Synapse
Apesar de ser o primeiro filme da Palestina a ganhar um Oscar, a produção não conseguiu um distribuição em massa nos Estados Unidos. Tendo apenas exibições limitadas durante 2024 e em janeiro deste ano, prévio ao evento.
 
O roteiro centra na amizade improvável de um palestino líder da resistência civil, o diretor Basel Adra, e de um jornalista israelense simpático à causa, o diretor Yuval Abraham.  Os dois jovens documentam sua luta contra um sistema opressor e também o companheirismo entre ambos, tão distantes pelas etnias mas tão próximos no seu anseio pela justiça. Essa mescla entre vidas privadas e públicas cria um contraponto interessante, que aproxima o conflito do espectador, pois o humaniza. Basel e sua família é o núcleo principal do filme e as violências contra eles o mote primordial dos takes. A morte e a destruição de alguns de seus membros revoltam quem está assistindo, pois são indefesos e só querem o que é seu, por direito. Ao Yuval cabe dar a solidariedade  que se presta a quem está sofrendo, o abraço amigo a quem está precisando. A interação entre os dois amigos é impactante.

 

A ideia do filme de trazer emoção à tanta desumanidade comove. É algo que poderia acontecer com você leitor deste texto, sua família poderia ser perseguida, sua terra tomada, seu direito à vida cerceado. As conversas entre o judeu e o muçulmano, o israelense e o palestino, o Yuval e o Basel, são a prova de que somos muitos, que englobamos muitas identidades, mas que não precisamos destruir a do outro.

 

Essa luta insana que ainda não teve fim, continua agora e perdurará por muitos anos, está imortalizada nas telas, uma prova inconteste do genocídio do povo palestino. Se a arte vai ajudar em algo, não se sabe, mas o documento está aí. O sofrimento dos jovens, principalmente o mais atingido Basel, serve para aproximar algo que está distante. Pelo menos o olhar de Hollywood mudou e Vanessa Redgrave prova que nunca esteve tão certa. 
Trailer
 

 

Ficha Técnica
 
  • Título Original e Ano: Sem Chão, 2024. Direção: Yuval Abraham, Basel Adra, Hamdan Ballal, Rachel Szor. Elenco: Yuval Abraham, Basel Adra, Hamdan Ballal. Gênero: Documentário. Nacionalidade:Território Ocupado da Palestina e Noruega. Trilha Sonora Original: Julius Pollux Rothlaender. Edição:Yuval Abraham, Basel Adra, Hamdan Ballal, Rachel Szor. Distribuição: Synapse Distribution. Duração:  92min

 

EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS

Escrito por Marcelino Nobrega

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