Filme vencedor da Competição Brasileira de Longas e Médias-Metragens
A diretora Carine Wallauer em seu primeiro longa-metragem resolveu falar sobre o prédio, situado em São Paulo, Copan, em que morou por alguns anos. Na finalização das filmagens, teve que sair de seu apartamento ao receber uma carta de desocupação, prevista em contrato de aluguel em casos específicos. Esse afastamento, ocorrido à revelia de sua vontade, não a esmoreceu em sua missão e o resultado é um documentário de hora e meia, Copan, coproduzido pelo Brasil e França.
Em registros gerais, as estruturas arquitetônicas e humanísticas grandiosas do Copan são apresentadas no documentário. Seus moradores, seus funcionários, os detalhes de sua fachada, a eleição de síndico, a ebulição na vida de todos por ocasião da eleição presidencial de Bolsonaro e Lula, todos estes aspectos são apresentados no decorrer das cenas, que se alternam entre os temas. A montagem privilegia estes paralelismos; os assuntos são trocados com agilidade.
Essa multiplicidade de estórias faz com que nenhum dos temas seja aprofundado. O recorte é muito extenso. É tudo muito interessante, mas a abordagem rápida na edição faz com que o espectador fique com uma impressão rasa do que está acontecendo. Subjacente a tudo, há o espectro político de uma eleição presidencial que dividiu o país, que se reflete nos diálogos jocosos dos funcionários do prédio ou nas atitudes dos moradores e na eleição do síndico, mas que não é aprofundada em suas causas ou no seu histórico. Quem não conhece a história do edifício paulistano, talvez não tenha o entendimento total do que está acontecendo, como se fossem apresentadas piadas internas, para iniciados.
O Copan é um dos símbolos da cidade de São Paulo. Projetado pelo maior arquiteto do Brasil, Oscar Niemeyer, na década de 60, é o maior prédio residencial da América Latina. São 1160 apartamentos, com uma população estimada de cinco mil residentes, das mais variadas classes sociais e níveis de educação. Seu formato de um grande S na Avenida Ipiranga o faz um dos pontos turísticos mais queridos da capital paulistana.
Crédito de Imagens: Clariô Filmes, MVM Movimentos Culturais e O Pai Produções - Festival É Tudo Verdade - Divulgação
Título Original e ano: Copan, 2025. Direção e Roteiro: Carine Wallauer. Gênero: Documentário. Nacionalidade: Brasil e França. Empresas Produtoras: Clariô Filmes, MVM Movimentos Culturais e O Par Produções. Duração: 90'. DCP, Colorido. Classificação: 14 anos.
Sua história conturbada de auge, decadência e renascimento é característica das mudanças urbanas que acontecem no centro de qualquer metrópole. Comandada por um mesmo síndico há décadas, cuja reeleição é mostrada em uma assembleia digital, sua administração renasceu o prédio, que de maior cortiço no centro, refúgio de pessoas muito pobres e que viviam às vezes do sexo e/ou das drogas, tornou-se desejo de moradia de intelectuais e artistas, uma classe média que gentrificou a preços absurdos os apartamentos e torres do prédio.
O recorte do documentário, porém, não abarca esses detalhes da história ou da diversidade do prédio. Até mesmo o conflito político da eleição presidencial e da eleição de síndico não é relatado com a profundidade que merece. Essa multiplicidade de assuntos, aliado a uma trilha de sons industriais, tira o foco do espectador, que se perde entre os labirintos do roteiro, sem alcançar o humano na imensidão do prédio ou o concreto na vida daquelas pessoas.
As imagens do Copan e da imensidão que é centro de São Paulo são o ponto forte. Imaginar que tantas pessoas sobrevivem naquela miragem de centenas de prédios é motivo para muitos documentários. Flores nascem do asfalto e cada paulistano que mora no Copan e no centro da metrópole é prova disso.
Nota: 5/10.
O Festival É Tudo Verdade, que se iniciou presencialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, está disponível de 14 a 30 de abril, com uma seleção de curtas-metragens no ItauculturalPlay.
Visiste: https://www.itauculturalplay.
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